O Aprendiz 4 - O Sócio

Sites Relacionados

O Aprendiz 4 - O Sócio

Sábado, 19 de maio de 2007, 16h04  Atualizada às 16h04

'O Aprendiz 4' é veículo para futuros capitalistas predadores

Mauro Trindade
Antonio Chahestian/Record/Divulgação

Roberto Justus apresenta O Aprendiz 4 - O Sócio
Busca
Saiba mais na Internet sobre:
Busque outras notícias no Terra:

O programa O Aprendiz 4 - O Sócio, exibido às terças e quintas, às 23h, pela rede Record, tenta ser um modelo de gestão empresarial. Não é. Antes funciona como uma antologia de personalidades na "fauna" do mundo empresarial, no qual as espécies que não se enquadram em um determinado perfil estão condenadas a extinção profissional.

» Confira o especial sobre O Aprendiz 4 - O Sócio
» Conheça os participantes

O programa é apresentado por Roberto Justus, publicitário paulista que comanda há quatro edições a versão nacional de The Apprentice, importado da rede norte-americana NBC, com apresentação do empresário Donald Trump.

O "reality business" tornou-se um sucesso imediato. Na segunda edição brasileira, chegou a 21 pontos de audiência e na atual já conquistou, mesmo que por alguns breves minutos, a liderança isolada do ibope. Há bons motivos para isso. Primeiro porque reproduz, no mundo dos negócios, a fama instantânea alcançada pelos participantes de programa semelhantes, como Big Brother e Ídolos.

Motivados mais pela empatia do que por qualquer razão objetiva, telespectadores passam a acompanhar a trajetória dos concorrentes em busca de um prêmio de um milhão de reais. O valor atraiu, segundo a Record, 26 mil candidatos, dos quais foram selecionados apenas 16 concorrentes. O vencedor ainda se tornará sócio de Justus em uma nova empresa.

Além disso, há uma importância "pedagógica" do programa. De maneira eficiente e com alcance incomparável, O Aprendiz ensina aos telespectadores como se comportar em reuniões, o que se espera deles em um ambiente de trabalho e como subir profissionalmente de maneira audaciosa. E aí começam os problemas. Todo o programa transforma a administração de uma vida de trabalho em um esforço de superar os concorrentes, ou seja, qualquer pessoa que possa realizar as mesmas atividades profissionais. É uma maneira atrasada de se lidar com o trabalho e, no fundo, com as próprias expectativas de vida.

Há outras formas de se administrar empreendimentos e iniciativas que valorizam atitudes diametralmente opostas àquelas exploradas no programa. Carreira não é cadeia alimentar, na qual o único lugar aceitável é o topo onde, qual um "Tiranossauro Rex", o executivo eviscera as ameaças ao seu território e a sua sobrevivência.

A visão piramidal da organização do trabalho é arcaica e pode ser contraposta a idéias de rede, de colaboração e partilhamento que se mostraram mais eficientes e estão cada vez mais presentes na economia mundial. Internet, empresas de software, de produção cultural e do setor terciário trabalham com sucesso com estas idéias. O coletivo funciona melhor que o particular.

De qualquer maneira, não é preciso levar a sério demais um programa cujo grande momento é o da demissão de um dos participantes. O termo, aliás, é incorreto, já que não existe vínculo empregatício entre os concorrentes e Justus, no papel do chefe centralizador, onisciente e onipotente.

O clímax semanal do programa sempre é o afastamento de um dos candidatos a milionário, de forma um tanto sádica e com ares de execração pública. Sequer isso corresponde à verdade. Um profissional que não se adapta numa empresa pode trabalhar muito bem em inúmeras outras e avaliações por resultados são tão subjetivas quanto quaisquer outras. É bom lembrar que trabalho é, antes de tudo, uma forma de se relacionar. E uma relação produtiva não é feita entre vencidos e vencedores. Parceria é o que conta.

TV Press