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Há cerca de dois anos, seu programa perdeu a liderança no Ibope para a TV Globo. Isso incomoda?
A Globo nunca me incomodou. Nem a Bandeirantes, nem ninguém. Eu tenho um público certo. Meu programa é o mesmo, com crianças extraordinárias.

Mas você não se preocupa com os níveis de audiência?
Lógico que sim. Ibope alto traz patrocinador, prestígio, jornalistas, aumento de ordenado, mais carinho e respeito dentro da emissora. Eu acompanho a audiência do meu programa todos os sábados.

Você tem medo da concorrência?
Não. Sou mais artista do que Luciano Huck e Gilberto Barros. Eu imito 30 artistas, canto, danço e conto piadas. Eles são simplesmente apresentadores. Eu sou animador. Existe uma diferença muito grande entre animador e apresentador.

Você não acha que expõe demais a imagem das crianças nos concursos de dança?
Eu não exponho, eu ajudo. Todas as crianças recebem R$ 300 para participar do meu programa. A maioria é pobre. Para você ter uma idéia, elas recebem o dinheiro logo que acaba o programa.

Ser copiado incomoda?
Eu não gosto de ser copiado. Diretor e produtor de televisão ganham um ordenado para criar. Não é assistir aos programas dos outros e fazer igual. Eu não gosto disso.

E o que você pensa das sátiras que o humorista Tom Cavalcante faz de Silvio Santos e das atrações do SBT?
Sátiras eu não condeno. Não aprovo a idéia de se apropriar de um quadro de outro programa. As sátiras do Tom Cavalcante são boas. O Silvio Santos cismou com o Tom Cavalcante.

Você condena a decisão do Silvio Santos de entrar com uma ação contra a Record por causa das sátiras feitas por Tom Cavalcante aos programas Gente que Brilha e Qual É a Música, do SBT?
Eu não sei por que Silvio Santos fez isso. Ele é um cara competente, extraordinário. Todo mundo adora ele. Não precisava disso. Todo mundo imita o Silvio Santos. Eu, João Kleber e até o pessoal do Pânico na TV.

O que acha dos humoristas do Pânico?
Eu gosto muito. É um humor diferente. Morro de rir com eles. Outro dia, estava assistindo ao Repórter Vesgo e Ceará na cobertura da festa dos 40 anos da Globo. Foi engraçado.

Você calçaria as Sandálias da Humildade?
Sem dúvida. Não estou nem aí. Eu sei brincar. Ou você brinca ou chora.

O que você fez mais: brincar ou chorar?
Eu já chorei muito. Chorei na morte da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos. Eu fico emocionado facilmente.

Então, você é sensível?
Sim. Sou aquariano. Eu ajudo todo mundo e levo um pontapé. Dois calouros - que eu não vou falar o nome - estão "enchendo o meu saco". Já fiz tudo o que eu podia por eles. Eles acham que eu sou obrigado a fazer sucesso por eles. Não é por aí. Eu não vou cantar por ninguém.

Você pode contar um pontapé que você levou na vida?
Uma vez, dei um tapa na cabeça de um garçom e ele me processou. Pediu R$ 200 mil para retirar o boletim de ocorrência. Mas ele quase se deu mal. Ia ser preso por extorsão. Mas eu fui adiante. Ele tem três filhos pequenos. Um até escreveu uma carta pra mim. Dei R$ 10 mil e resolvi o problema. Eu já cansei de dar dinheiro.

Você não gosta de dinheiro?
Eu gosto muito. Tem uma passagem na Bíblia que diz: só dando é que se recebe. Tenho isso na minha mente. Quando alguém sacanear, volta em dobro.

Dinheiro traz felicidade?
Traz felicidade e respeito. Você vira até doutor. Eu abençôo o dinheiro.

É verdade que você ganha dinheiro para apresentar cantores no seu programa?
Não. Eu tenho um ordenado suficiente. Ganho para viver bem. Não recebo o que eu mereço. Merecia muito mais (risos).

Tem porcentual de merchandising?
Tem. Recebo 10% de tudo que é vendido no programa. Agora, veja só: se eu ganho para falar de uma lingüiça, deveria ganhar cachê para colocar artista. A gravadora fatura alto, o artista fica rico e eu não ganho nada. Artista é um produto também.

Quanto custa o programa?
Não sei. É a Record que sabe.

Qual foi o maior erro que você já cometeu em 45 anos de carreira?
Em 1983, eu era contratado do SBT e tinha um programa que ia ao ar das 15 às 18h. Eu ganhava um grande ordenado. Quando faltavam três ou quatro meses para terminar meu contrato, o Luciano Callegari (ex-superintendente artístico do SBT) comunicou que a atração ia mudar de horário. Eu não aceitei essa decisão. Quis dar uma de machão. Em seguida, Callegari ligou para o Silvio Santos e disse que eu ia embora do SBT caso meu programa mudasse de horário. Eu disse para o Silvio Santos que ia embora mesmo. Fui e me arrependi muito. Muito mesmo. Depois, fui atrás do Silvio Santos e ele não me atendeu. Depois de muito tempo, voltei ao SBT.

Vamos falar de Silvio Santos...
Eu amo o Silvio Santos. Mas não gosto de ser comparado com ele. O Silvio Santos não tem o recurso que eu tenho. Eu canto, imito, conto piadas e danço. O Silvio não faz nada disso.

Você tem o reconhecimento que merece?
Eu sou bem recompensado. O Silvio Santos é amado e eu também. A diferença é que ele é mais badalado do que eu. Mas é uma badalação interesseira. No meu caso, não.

Você tem medo de ficar desempregado?
Hoje não. Estou tranqüilo. Posso ficar desempregado que vou ficar sossegado.

Você sofre algum tipo de censura dentro da Record?
Nunca. Eu procuro fazer um programa família. Nos programa concorrentes, a câmera entra por baixo da saia da mulher. Enquanto eu estou com as criancinhas cantando no palco.

O que as crianças vêem em você?
Sou o vovô que cai no chão e deixa passar por cima (risos).

Quem se orgulha de ter lançado?
Todos. Eu não lancei ninguém, apenas abri espaço para Robson, Alexandre Pires, Sidney Magal, Titãs, Ultraje a Rigor, Christian & Ralf, Camisa de Vênus, entre outros.

Quem você revelou e te esqueceu?
Lulu Santos. Eu tenho uma gravação que ele me abraça no SBT, em 1982. Ele disse que eu era o seu padrinho. Fico arrepiado quando lembro disso. Depois de 20 anos, perguntei: você não vai mais ao meu programa? Ele olhou e respondeu: eu só vou aos programas da Globo que dão mais de 20 pontos de audiência. Fiquei muito magoado. Também tenho mágoas do Djvan, Ivan Lins e Toquinho. Não posso nem ouvir o Toquinho cantar. Eles prometem, mas não vão ao meu programa.

Como está sua relação com Silvio Santos hoje?
Somos amigos. Sou admirador e torço por ele. Eu não tenho que puxar o saco dele. Não preciso do Silvio Santos.

Você está casado há 47 anos com a mesma mulher. Qual é o segredo de uma relação duradoura?
Dura tanto porque a gente se suporta.

Ainda existe amor?
Não sei. Eu gosto dela. Ela gosta de mim. Eu fui muito apaixonado pela minha mulher. Aliás, só por ela. Hoje eu não tenho essa paixão. Mas nunca mais gostei de ninguém. Espero não me apaixonar de novo.

Você já traiu?
Você acaba traindo sem querer.

Então, você já traiu sua mulher?
Eu não! (risos). Você acha?!

O que você pensa da inesperada separação de Daniella Cicarelli e Ronaldo?
Eu já sabia! Ela encostou nele e ainda deve levar R$ 15 milhões. Eu não ganhei esse dinheiro cantando. É uma bela palhaçada. O Ronaldo é um idiota. Ele se empolgou com o sucesso. Acha que pode transar com quem ele quiser, até com a Rainha da Inglaterra. Eu não agüentava mais abrir os jornais e ler notícias sobre os dois. Desculpa, eu não conheço a Daniella Cicarelli pessoalmente. Eu não sei qual será a minha reação ao vê-la. Mas ela não tem esse talento todo.

Qual é o seu maior sonho?
Eu consegui tudo que sonhei. Pensei em ser um grande cantor e virei um dos maiores animadores do País, ao lado de Silvio Santos e Hebe Camargo.

Você tem medo da morte?
Acho que todo mundo tem. Penso que tenho que acertar minha vida para deixar meus filhos bem.

Quais são os seus defeitos e qualidades?
Sou mão-aberta e nervoso. Também sou muito honesto.

O que falta acontecer na sua vida?
O Corinthians ser campeão.

Você é vaidoso?
Sou muito vaidoso. Gosto de jóias, perfumes e roupa boa.

Em que você gasta seu dinheiro?
Eu compro casas e carros. Compro muito imóvel. Recentemente, eu fiz uma loucura: comprei oito casas num único condomínio em Itu, interior de São Paulo. Elas ainda não estão alugadas.

Você se acha bonito?
Não. Eu sempre tive complexo de feiúra, principalmente quando eu era jovem. Agora, sou um velho simpático e feliz.