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Segunda, 7 de junho de 2004, 07h23 
"Meu objetivo não é seduzir", diz Caio Blat
 
André Bernardo
 
Luiza Dantas/TV Press
Caio Blat curte sucesso de Abelardo em  Da Cor do Pecado
Caio Blat curte sucesso de Abelardo em Da Cor do Pecado
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Caio Blat sempre se sentiu um tanto deslocado nos almoços de domingo. A exemplo do sensível Abelardo, de Da Cor do Pecado - que ousou ser maquiador numa família de lutadores de jiu-jítsu -, ele é o único ator numa família de profissionais de saúde. O pai, José Lucínio, e a irmã, Camila, são fonoaudiólogos e a mãe, Kátya, e a outra irmã, Maria Fernanda, dentistas. "Fiquei de fora dessa tradição familiar. Mas na boa. Sem discriminação", enfatiza.

Fotos da carreira do ator!

Dona Kátya, porém, está longe de lembrar a Mamãe Sardinha da novela. Foi ela quem levou Caio, ainda pequeno, para fazer os primeiros comerciais de tevê. "Ela é a minha maior crítica. Se um personagem está muito parecido com outro, fala para caramba", entrega.

Mas, a julgar pelo currículo do filho, Dona Kátya não tem muito do que reclamar. "Já fui mocinho, sedutor, vilão... Agora, faço o esquisitão da casa. Deve ser horrível ficar marcado por um tipo apenas", acredita.

Apesar de já contabilizar 10 anos de carreira - só de novelas -, Caio nunca interpretou um tipo assumidamente cômico antes. O máximo que conseguiu foi fazer um humor involuntário como o querubim Rafael de Um Anjo Caiu do Céu. Na maioria das vezes, Caio assumia o papel do antigalã, que conquista o público pelo ar ingênuo e rosto de garoto. "Meu objetivo não é seduzir, mas emocionar as pessoas", frisa.

E, para sensibilizar o público, Caio é capaz de se esmerar na composição de um personagem. Na época de Chiquinha Gonzaga, quando fez um jovem apaixonado por música clássica, Caio não perdeu tempo e comprou uma pilha de CDs do gênero. Mais adiante, quando interpretou o personagem-título de Um Anjo Caiu do Céu, visitou sebos e bibliotecas atrás de livros de religião.

Dessa vez, para compor o afetado Abelardo, não foi diferente. Caio foi buscar inspiração em filmes de artes marciais, no horóscopo chinês e, principalmente, em revistas de moda e maquiagem. "Hoje, já sei quando alguém erra no tom da sombra ou não sabe combiná-la com o 'gloss'. Boa maquiagem valoriza a expressão", pondera ele, com autoridade no assunto. Leia a seguir a entrevista com o ator:

P - O Abelardo é o seu primeiro personagem cômico na tevê. Você concorda com quem diz que é mais difícil fazer rir do que chorar?
R - Eu já tive algumas experiências cômicas antes, como em Um Anjo Caiu do Céu, onde havia uma graça que nascia da ingenuidade do Rafael. Mas, personagem cômico mesmo, o Abelardo é o primeiro. E a orientação que eu tive da direção foi fazer humor como se faz drama. Nesse sentido, resolvi conversar com alguns mestres da comédia, como Luiz Fernando Guimarães e Jorge Fernando. E os dois me disseram isso: "Acredite no que você está fazendo. Faça o personagem de verdade. Acredite nele. Não faça careta, graça ou algo do gênero". E é isso o que eu estou fazendo. Acreditando no personagem e confiando no texto do João. Por essas e outras, posso afirmar que o público "comprou" a Família Sardinha...

P - Mas você esperava tanto alvoroço em torno da dubiedade sexual do personagem?
R - Olha, esse foi um dos grandes desafios que a direção da novela me impôs. Que eu não fizesse do Abelardo um homossexual. Que eu o mantivesse numa linha divisória, muito tênue, que oscilasse entre um lado e o outro. Mas sempre envolto em clima de mistério, suspense, indefinição... Será que ele é? Será que ele não é? Não sabemos. Mas e as cartas de amor que a gente não sabe de quem são? Até o final da novela, devemos manter esse clima de mistério entre o homossexual e o que o pessoal já se habituou a chamar de metrossexual... O homem que se cuida, se depila, anda na moda, gosta de artes plásticas e balé... Em outras palavras, o Abelardo não é um personagem facilmente identificável. Nem profissional nem sexualmente falando.

P - Você já se sentiu marginalizado como o Abelardo?
R - Marginalizado, não. Mas um "estranho no ninho", sim. Porque a minha família é de médicos. Meus pais, minhas irmãs, meus avós, meus tios, todos, enfim, são médicos... E eu sou o único ator da família. Quando tem almoço lá em casa, o assunto é um só: operações, técnicas, hospitais... Mas na boa. Sem discriminação. Muito pelo contrário. Foi minha mãe, Dona Kátya, que me levou, ainda moleque, para participar de uma gravação qualquer. Se ela não tivesse feito isso, talvez eu nunca pensasse em ser ator. Hoje em dia, minha mãe é a minha maior crítica. Sempre que começo um novo trabalho, ela é sempre muito feroz. Critica mesmo. Se acha que o novo personagem está muito parecido com o anterior, fala para caramba.

P - Na infância, você chegou a praticar judô. Há alguma outra afinidade com a cultura oriental?
R - Sim, muitas. Há alguns anos, por exemplo, freqüento a sociedade taoísta. A primeira vez que me interessei pelo assunto foi na época de Um Anjo Caiu do Céu. Eu queria fazer um anjo que reunisse informações de diferentes correntes religiosas. Desde então, o "Tao" é um livro que anda sempre perto de mim. Agora, quanto às artes marciais, não. Dia desses, numa cena de luta contra os vilões, foi quase um sonho de criança que realizei. Quando moleque, via aqueles filmes do Bruce Lee e Van Damme e ficava em casa pulando em cima do sofá da sala... Gravar aquela cena foi como realizar um sonho de garoto.

P - Mas como surgiu a idéia de buscar inspiração no horóscopo chinês para compor o Abelardo?
R - Para compor o Abelardo, fui buscar inspiração em muitos lugares. Por curiosidade, até no horóscopo chinês. E cheguei à conclusão que o Abelardo é de galo. No horóscopo chinês, o galo é um signo que vive sempre empinado, impondo o seu jeito de ser, a sua personalidade. Enfim, sempre cantando de galo. No meio daquela família caótica, ele é o único a ter horários e objetivos. Isso é bem característico do signo. Aliás, a personalidade forte é o que o Abelardo tem de mais bacana para passar para o público. Mesmo com aquela gangue de trogloditas em casa tentando anular a personalidade dele, o Abelardo faz de tudo para se impor. É essa personalidade forte que o faz lutar pelo que acredita.

P - Você se destaca dos atores de sua geração por uma postura mais discreta, quase anti-social. Isso tem a ver com o taoísmo? P - Mas quais são os prós e contras de ter iniciado a carreira de ator tão cedo?
R - O pró é o fato de eu nunca ter recorrido a uma escola de atores propriamente dita. Fui formado na prática. O meu primeiro trabalho na tevê foi o "Mundo da Lua", na Cultura. Nesse trabalho, contracenei com Antônio Fagundes, Gianfrancesco Guarnieri... E eu não estava nem aí. Estava mais preocupado em correr pelo estúdio, jogar bola no intervalo das gravações, essas coisas. Foi a convivência com esses "professores" que ajudou na minha formação. Quando terminei o colégio e pensei sobre o que faria da vida, achei que fazer uma faculdade de Teatro já não seria mais tão necessário. Eles já eram meus colegas de trabalho há muitos anos. Quanto aos contras, não tenho do que reclamar. Sempre brinquei demais. Adorava o que fazia. Cansei de ver crianças que os pais tentavam levar para a tevê, mas elas não estavam nem aí...

P - Esse ano, você completa uma década de novelas. Que balanço você faz de sua trajetória na tevê?
R - Olha, eu nunca me senti trabalhando. É como se eu estivesse apenas desenvolvendo um hobbie. Se a pessoa consegue desenvolver esse prazer de fazer o que gosta, é maravilhoso. Você não tem a sensação de que tem mais um dia de trabalho a cumprir e sim mais um dia maravilhoso e sempre diferente do outro a desfrutar. Eu vivo a vida como se estivesse a passeio. E, graças a Deus, trabalho naquilo que gosto. Não vejo minha profissão como um fardo, um compromisso. É claro que sou um profissional responsável, mas prefiro ver minha profissão como um hobbie mesmo.

P - E quais são os seus planos para os próximos 10 anos?
R - Recentemente, o SBT reprisou a novela "Fascinação". E, ano passado, já tinha exibido "Éramos Seis". A partir do momento que você já aparece no "Vale a Pena Ver de Novo", é porque você já tem uma história para contar, não é verdade? A minha grande ambição profissional, sem dúvida, é ter estabilidade. Estar sempre sendo requisitado, se renovando a cada trabalho, essas coisas... Eu me orgulho muito de ter conseguido fincar um pé em cada veículo. Eu me orgulho de ter feito "Lavoura Arcaica", Chiquinha Gonzaga, "Éramos Seis"... Sei que possuo uma freqüência regular em cada um deles, mas isso não é garantia de nada. No Brasil, pelo menos, não. Infelizmente.

O avesso do avesso
Atores iguais a Caio Blat existem poucos por aí. Em 2001, ele trocou uma cobertura na Barra por uma casa no Vidigal, favela de 12 mil habitantes na Zona Sul do Rio. Na época, selecionava atores da comunidade para o elenco da peça Êxtase, escrita por Walcyr Carrasco e dirigida por ele. O espetáculo contava a história de dois jovens de classe média que chegavam a se prostituir para comprar drogas.

Durante quatro meses, Caio seguiu à risca a lei de sobrevivência que impera nos morros cariocas. Como todos os moradores, não podia chegar de táxi, pedir comida em casa ou correr pelas ruas da favela. "Os jovens pensam que ser artista é aparecer na Globo. Mas não é só isso. Temos bandeiras a levantar", prega.

Desde cedo, Caio Blat revelou-se um jovem diferente do habitual. No Colégio Anglo-Americano, era sempre um dos primeiros da turma. De presente, em vez de brinquedos, ganhava livros. Aos 12 anos, gastou a mesada inteira comprando a coleção de Agatha Christie. Leitor voraz de romances policiais, acabou escrevendo um, O Último Suspeito, ainda inédito. Mas Caio não aprecia apenas histórias de mistério. Dois de seus poetas favoritos são Castro Alves e Álvares de Azevedo. Do último, produziu a peça Macário, em 2000. No período em que estudou Direito na USP, freqüentava o mausoléu de um dos primeiros professores da faculdade, onde tomava vinho e recitava poesia.

Caio Blat é também avesso a noitadas e badalações. Atualmente, ele se divide entre um "flat" em Copacabana, na Zona Sul do Rio, e o sítio em Campinas, no interior de São Paulo, onde moram a mulher, a cantora lírica Ana Ariel, e o filho adotivo, Antônio, de apenas um ano. "A Ana é o oposto de todo mundo que quer aparecer", destaca o ator, que casou-se apenas 15 dias depois de conhecer a futura mulher. Juntos, os dois trabalham como voluntários da Associação dos Amigos da Criança, que atende a 400 menores carentes em Campinas. Foi lá que conheceram o pequeno Antônio, recém-nascido. "O olhar do Antônio vale o medo de ter casado novo", derrete-se.

Talento precoce
O ator Caio Blat, quem diria, faz parte de uma geração de atores cria do SBT. A exemplo de Mariana Ximenes e Regiane Alves, ele também estreou em novelas na emissora de Silvio Santos, com o "remake" de Éramos Seis, em 1994.

Antes disso, porém, ele havia feito apenas uma rápida participação no seriado Retrato de Mulher, na Globo. Caio interpretou o filho da personagem de Regina Duarte, com quem formou par romântico em Chiquinha Gonzaga. "Quando contei isso para a Regina, ela nem acreditou. Tive de levar as fotos da gravação para ela se convencer", lembra.

O convite para participar da minissérie surgiu por acaso. Na verdade, ele foi chamado para fazer teste para Suave Veneno, de Aguinaldo Silva. Mas o papel do jogador Renildo foi parar nas mãos de Rodrigo Faro e a fita de Caio nas do diretor Jayme Monjardim. Dias depois, ele já estreava na Globo, como o jovem João Batista, par romântico da veterana Regina Duarte na minissérie de Lauro César Muniz.

Na ocasião, o ator cansou de ser assediado nas ruas por quarentonas assanhadas. "Algumas diziam que estavam infelizes no casamento e davam em cima mesmo", diverte-se.

Trajetória televisiva
# Éramos Seis, de Sílvio de Abreu e Rubens Ewald Filho (SBT, 1994) - Carlos.
# As Pupilas do Senhor Reitor, de Ismael Fernandes e Bôsco (SBT, 1995)
# Fascinação, de Walcyr Carrasco (SBT, 1997) - Gustavo.
# Chiquinha Gonzaga, de Lauro César Muniz. (Globo, 1998) - João Batista.
# Andando nas Nuvens, de Euclydes Marinho (Globo, 1999) - Thiago San Marino.
# Esplendor, de Ana Maria Moretzsohn (Globo, 2000) - Bruno.
# Um Anjo Caiu do Céu, de Antônio Calmon (Globo, 2001) - Rafael.
# Coração de Estudante, de Emanuel Jacobina (Globo, 2002) - Mateus.
# Da Cor do Pecado, de João Emanuel Carneiro (Globo, 2004) - Abelardo.
 

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