Parada Gay 2007

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Parada Gay 2007

Terça, 29 de maio de 2007, 14h59  Atualizada às 16h21

"Nossa arma é a alegria", diz Léo Aquilla

Danilo Lima
Divulgação

O performer Léo Aquilla
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Com mais de dez anos de carreira, o performer Léo Aquilla, já conhecido no cenário GLBT, deixou um pouco as performances de lado para mostrar seu lado ativista. Além de ter se candidatado a deputado estadual em 2006, ele vem participando de eventos em prol da conscientização do povo brasileiro e, como não poderia deixar de ser, marca presença na Parada do Orgulho Gay, que será realizada no dia 10 de junho. "Nossa arma é a alegria", disse.

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O transformista, que nasceu em Teófilo Ottoni, no Estado de Minas Gerais, ressaltou a importância de se lutar contra o preconceito, especialmente nas pequenas cidades e bairros afastados da capital. "No centro, reduto dos gays, sou uma deusa. Nos bairros afastados, preciso das deusas para me defender", brincou ele, que assumiu ser discriminado pela população.

Presença constante na parada, Léo Aquilla falou ainda sobre a participação dos manifestantes na luta pela aceitação dos homossexuais e outras minorias. "Certamente estarei lá, para mais uma vez emprestar meu nome em favor da nossa dignidade."

Confira a entrevista na íntegra com Léo Aquilla:

Como será sua participação na Parada do Orgulho Gay este ano?
Ainda estou pensando. Como estou contribuindo desde a primeira parada, certamente estarei lá, para mais uma vez emprestar meu nome em favor da nossa dignidade.

Você ainda é alvo de preconceito nas ruas?
No interior eu sou uma espécie de "alien", todo mundo me adora, mas ninguém me quer como nora. No Rio e em São Paulo, onde tudo deveria ser mais avançado e o povo mais esclarecido, não é diferente. No centro, reduto dos gays, sou uma deusa. Nos bairros, preciso das deusas para me defender (risos). Vivemos um momento perigoso de preconceito. Nesta era, onde se fala tanto em homofobia como crime, as pessoas tentam ser mais cautelosas. Isso, porém, nos traz outro problema. O preconceito, antigamente, era escancarado. Hoje, ele se esconde num sorriso ou num aperto de mão. É como dormir com o inimigo.

Como o movimento gay atua para que os homossexuais sejam cada vez mais aceitos na sociedade?
Tem um ditado que diz 'a união faz a força' e ele pode valer para esta causa. Verdadeiramente, falta muito para essa união ser concreta, mas o conceito que passamos de 'povo unido' é importante para quem é espectador na sociedade. Se eles acreditarem nesta união, começam a nos respeitar um pouco mais. Sendo assim, a parada é um ato político importantíssimo para nós homossexuais. Ali está a chance da nossa liberdade de expressão. É bobagem pensar se virou ou não um Carnaval fora de época. Nossa arma é a alegria.

Por que existem famílias que não gostam de visitar a parada?
Essa mentalidade de que a Parada Gay não é um lugar para a família ou "pessoas decentes" é ultrapassada. Basta observar a última edição. Tinha muitos heterossexuais e pais com crianças no colo, sorrindo e se divertindo. É claro que há excessos, mas no geral estamos conseguindo manter a maioria bem posicionada e politizada.

Os homossexuais já têm espaço na TV e no cinema. O que é preciso ser feito para que essa aceitação cresça ainda mais?
Esse crescimento virá em doses homeopáticas, como sempre aconteceu. O grande desafio contemporâneo está nas mãos dos gays que conseguem ser representados, especialmente com o microfone de uma emissora nas mãos. Por meio deles, todos os gays, em um sentimento de massa, serão julgados. Eu sou um exemplo disso: se eu for politicamente correto, mostrar minha honestidade e decência, as pessoas vão me ver com "bons olhos" e isso vai causar um impacto na sociedade. Se me respeitarem mais, outros gays serão respeitados, como num efeito dominó.

Na parada, onde homossexuais de vários guetos e personalidades se reúnem, existe preconceito entre os próprios adeptos da causa?
Sim, existe e não é pouco. Recentemente apresentamos um trabalho para a faculdade onde o tema era Os Excluídos dos Excluídos e abordamos o preconceito sofrido entre os próprios homossexuais. Os travestis são os mais injustiçados, além de sofrer tanta hostilidade da sociedade como um todo, ainda têm de suportar a discriminação de outros homossexuais. É por isso que digo que não há união entre nós.

Como é sua convivência com seus filhos. Eles aceitam sua homossexualidade?
Meus dois filhos foram criados para crescerem aceitando e convivendo com a diversidade. Para eles, ser diferente é positivo. O mundo seria uma chatice se todos fossem iguais. Ser heterossexual é normal e espontâneo. Ser gay também é normal e espontâneo.

Você trabalha na mídia e naturalmente vive em um ambiente que muitas pessoas não têm acesso. Existem muitos famosos, atores, cantores e atrizes que reprimem a homossexualidade por medo da reação de seu público?
É óbvio que sim. Conheço atores, famosos e quase famosos que são gays, mas terão que passar o resto da vida no armário porque ao contrário perderão seus empregos. Estou fazendo cinema atualmente, acabei de gravar um longa-metragem de Carlos Reichenbach e descobri que os diretores de elenco não selecionam atores gays para papéis de "machão", mesmo que o cara seja um gay sem qualquer tipo de trejeitos. A orientação é: se você for gay, minta, diga que é heterossexual.

Redação Terra