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Parada Gay 2005
Domingo, 29 de maio de 2005, 12h14 
"Não é vergonhoso ser gay", diz Jean Wyllis
 
Alexsandra Bentemuller
 
Gilberto Marques/Especial para Terra
Não sou moralista, diz Jean
"Não sou moralista", diz Jean
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Novo ícone do movimento gay, o baiano Jean Wyllis, vencedor do programa Big Brother Brasil 5, é o homenageado da 9ª edição da Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros), que espera reunir, neste domingo, 2 milhões de participantes na Avenida Paulista, em São Paulo. "Não é vergonhoso ser gay. Falar que você deseja e ama um homem não deve ser desonra para ninguém. Tenho outros valores", disse ele, em entrevista ao Terra.

Jean é ovacionado ao discursar na Parada Gay
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Confira o especial da Parada Gay 2005
Opine: a comunidade gay está em alta após Jean Wyllys?

Homossexual assumido desde os 15 anos, Jean, 31, ganhou notoriedade do público quando disse, ao vivo, que tinha ido ao paredão do BBB5 porque é gay. Ele ganhou o apoio de gays e lésbicas de todo o Brasil, que se mobilizaram para manter o professor na casa.

"Os organizadores da parada acreditam que eu prestei um serviço à luta histórica pela conquista dos direitos civis dos homossexuais. Rompi, involuntariamente, os estereótipos de bicha alegre, vazia, fútil e engraçada. Ou bicha deprimida, promíscua e que não aceita a sua sexualidade", contou.

Apesar de marcar presença nas paradas organizadas em Salvador, esta é a primeira vez que Jean vem à parada gay de São Paulo. "É o evento da sociedade civil organizada com maior visibilidade e participação popular. Quando os homens exercem seus podres poderes, índios, padres, bichas, negros, mulheres e adolescentes fazem a Parada Gay", afirmou o professor, parafraseando Caetano Veloso.

Jean contou que é avesso a qualquer tipo de preconceito, disse que apóia o beijo entre homossexuais em lugares públicos, que transaria com uma mulher e que quer ter um filho nos próximos anos. Confira a entrevista.

Terra - Você se considera merecedor dessa homenagem recebida na 9ª Parada do Orgulho GLBT?
Jean - É o evento da sociedade civil organizada com maior visibilidade e participação popular. Nenhum outro grupo subalterno que procura negociar com a hegemonia tem essa visibilidade e essa participação. Talvez, apenas os sem-terra. Fui convidado porque os organizadores acreditam que eu prestei um serviço à luta histórica pela conquista dos direitos civis dos gays. Rompi, involuntariamente, os estereótipos de bicha alegre, vazia, fútil, engraçada e que só serve para rir. Ou de bicha deprimida, promíscua e que não aceita a sua sexualidade. Não entrei no programa (BBB5) para romper estereótipos. Aconteceu porque faço isso na minha vida.

Terra - O que mais surpreende você na parada?
Jean - A conjugação da festa, de instituir um dia em que você tem orgulho de ser gay e da ação política. É uma cobrança política por direitos civis.

Terra - Você nunca teve medo de se expor?
Jean - De jeito nenhum. Não acho que minha orientação sexual seja um problema. Isso não tem que ser um problema na vida de ninguém. Não é vergonhoso ser gay. Falar que deseja e ama um homem não deve ser desonra. Existem outras coisas na vida que são mais vergonhosas e verdadeiramente obscenas, como a corrupção e os assassinatos de negros nas periferias das grandes cidades.

Terra - Quando você se deu conta que era gay?
Jean - Reconheci que gostava de garotos aos 15 anos. Assumi tranqüilamente. Divulguei minha orientação sexual no colégio interno em que estudei e nas empresas em que trabalhei. Eu não queria cobranças. Eventualmente, as pessoas iriam me ver em boates, eventos e bares gays. Olha, isso é pequeno na minha vida. Eu dou importância para isso porque faz parte do meu caráter. O caráter de uma pessoa também é forjado na sua identidade sexual. Além disso, ser gay nunca me impediu, quando desejei, de transar com mulheres também.

Terra - Você diz isso para posar de bissexual?
Jean - Não! Eu sou gay. Essa é minha orientação sexual. Mas a sensualidade humana também é elástica. Da mesma maneira que os heterossexuais podem se permitir, numa determinada circunstância da sua vida, uma transa com alguém do mesmo sexo, os gays também podem.

Terra - Do que, por exemplo, você tem vergonha?
Jean - De ser injusto com as pessoas. Eu tenho vontade de colocar a cabeça no vaso e dar descarga. Mas tenho a humildade de pedir desculpas. Não sou arrogante.

Terra - Em algum momento da sua vida sua orientação sexual provocou algum mal?
Jean - Eu mato um leão por dia. Se Mário de Andrade tivesse assumido que era gay, talvez hoje ele não aparecesse nos livros didáticos de literatura. Ele teve que camuflar a sua orientação sexual. Somos feridos todos os dias.

Terra - Mas você não acha que hoje está numa situação privilegiada?
Jean - Sim. Acabei conquistando muita gente no Brasil, dentro e fora da comunidade gay.

Terra - Que tipo de crítica costuma ser feita aos gays e você não suporta?
Jean - A que gay é um ser humano inferior, de segunda. Eu não tolero quando um gay é menosprezado. Tenho outros talentos. Sou jornalista e escritor.

Terra - E o contrário, quando um gay é enaltecido?
Jean - Também é absurdo. Ninguém é especial porque é gay. E ninguém é inferior porque é gay. As pessoas são especiais e inferiores por outras razões. Não pela orientação sexual.

Terra - O que você não suporta num gay?
Jean - O mesmo que eu não suporto em qualquer pessoa: mau-caratismo, arrogância, prepotência, desejo de humilhar os outros, desejo de falsidade, rancor e maledicência.

Terra - E quanto aos comportamentos gays?
Jean - Acho todos bacanas, maravilhosos, desde o travesti até as bichas montadas. Tudo é válido. O fato da bandeira do arco-íris ser utilizada como símbolo gay não é por acaso.

Terra - Por que os homossexuais do País ainda não atingiram todo o seu potencial?
Jean - Não espero pelo dias em que todos os homens concordem com o homossexualismo. Espero pelo dia em que todos respeitem as diferenças.

Terra - Você acha que esse dia vai chegar?
Jean - Não sei. Se não chegar, paciência. O conflito nunca vai ser limado. Onde existirem seres humanos juntos, haverá conflitos. O problema não está no conflito. O conflito é o alimento da vida. A questão está na guerra que quer destruir as duas partes. A gente pode conviver tranqüilamente no conflito, mas não na guerra. E o que vemos é uma guerra contras os gays pela diferença. Isso tem que acabar. Sempre existirão heterossexuais, gays e bissexuais.

Terra - Direitos Iguais é o tema da parada este ano. Você acredita nessa conquista?
Jean - Tem muita lei morta neste País. O primeiro parágrafo da constituição diz que todo mundo é igual, independentemente da sua orientação sexual, raça e credo. É uma grande balela. Ninguém é igual. A lei não se cumpre.

Terra - O que você acha de gays beijando na rua?
Jean - Eu aprovo. Não é vergonhoso. Se os casais heterossexuais podem se beijar no shopping, os gays também. O que não seria legal é a exposição desmedida. Uma "pegação" pública não fica bem para ninguém, nem para um casal heterossexual, nem para um gay.

Terra - Gay tem necessidade exacerbada de se mostrar além do necessário?
Jean - Não. E as mulheres? E a pintura? E as revistas de mulher pelada? Isso é do ser humano.

Terra - Você acha que muitos confundem respeito com sexo livre?
Jean - Não. Sexo livre não é uma exclusividade dos gays. Existem fetiches que só os heterossexuais praticam. As praias de nudismo não são invenções dos gays. São dos heterossexuais. A promiscuidade é praticada por todos os seres humanos, homossexuais e heterossexuais. Eu não sou moralista.

Terra - Você sonha com casamento tradicional?
Jean - Primeiramente, quero um grande amor na minha vida. Quero encontrar alguém que eu possa amar. Mas não necessariamente dividir espaço. Não sei se isso é importante. O importante é amar. Mas existem pessoas que gostam disso. Eu respeito. Acho que, se as pessoas dividem espaço, têm de ter direitos. A Justiça não pode ignorar isso. Quem não quer viver junto também deve ser respeitado.

Terra - Você já pensou em adotar uma criança?
Jean - Penso em fazer um filho entre os meus 35 e 40 anos de idade, de forma natural. Nada de inseminação artificial. Tenho libido. Espero encontrar uma garota na época. O sonho da humanidade é vencer a morte. Existem duas coisas contra as quais nós somos impotentes: o tempo e a morte.
 

Redação Terra