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Entrevistas
Segunda, 17 de janeiro de 2005, 08h00 
"Senti saudades da minha casa", diz Zeca Camargo
 
André Bernardo
 
Jorge Rodrigues Jorge/TV Press
Zeca Camargo: E foi a melhor coisa que poderia ter acontecido
Zeca Camargo: "E foi a melhor coisa que poderia ter acontecido"
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Quando desembarcou no Brasil, em setembro do ano passado, vindo de uma viagem de 126 dias ao redor do mundo, Zeca Camargo teve a impressão de que tinha acabado de apresentar outro No Limite.

De frentistas a executivos, todos comentavam com ele alguns dos momentos mais emocionantes da Fantástica Volta ao Mundo, quadro que o fez percorrer 17 países em quatro meses.

E momentos emocionantes é que não faltam para contar. Tanto que Zeca decidiu reuni-los num livro que, em menos de duas semanas, entrou na lista dos mais vendidos. "Todo mundo me pergunta se posso levá-lo como assistente de uma próxima vez. Só posso dizer para pegar a senha e entrar na fila", brinca ele.

A julgar pelo assédio do público, a fila já deve estar enorme. Nas ruas, Zeca sempre encontra alguém que dispara um "Puxa, parece até que eu estava lá" que emociona o jornalista.

No livro, o apresentador do Fantástico narra desde histórias divertidas até situações embaraçosas. Entre as muitas "roubadas" que enfrentou, cita o indigesto ovo de pato fecundado que degustou nas Filipinas, os 130 quilos de bagagem que carregou pelas escadas de um hotel sem elevador na Austrália e as 24 horas intermináveis de vôo entre o Uzbequistão e Kiev.

"Ah, e teve também a viagem no Rajastão, que não terminava nunca. A certa altura, achei que a gente estava sendo seqüestrado", graceja.

Mas nada disso arrefeceu os ânimos de Zeca Camargo. Nos próximos meses, ele lança também um DVD da viagem, com um sem-número de extras, bônus e "making-ofs". E já pensa no roteiro do que pode vir a ser a segunda edição da Fantástica Volta ao Mundo, quando gostaria de conhecer Egito, Chile e Islândia.

Para abrandar a saudade que sente dos países que visitou, ouve os mais de 100 CDs que comprou no exterior e curte a inusitada coleção de garrafas de refrigerante, que inclui exemplares do Sri Lanka, das Filipinas e da Tasmânia.

Zeca só não se atreve mesmo a exercitar o surfe que aprendeu no Havaí. "De jeito nenhum! Fiz só por brincadeira. E já me dou por satisfeito por ter ficado de pé na prancha", garante ele, adepto de esportes menos radicais, como ioga e natação. Leia a seguir a entrevista com o jornalista:

P - Com menos de duas semanas, A Fantástica Volta ao Mundo entrou na lista dos mais vendidos. A que você atribui esse sucesso?
R - Olha, tem uma coisa que explica um pouco o sucesso da série que é a expressão "Volta ao mundo". Já agradeci mil vezes ao Senhor Júlio Verne por ela. Essa história de volta ao mundo bate forte no coração das pessoas. Além disso, o livro é também muito transparente. Eu o escrevi na 1ª pessoa e procurei dividir com os leitores todas as emoções, os deslumbramentos, enfim, tudo que senti ao longo da viagem. Um dos comentários mais freqüentes que ouço, aliás, é "Puxa, parece até que eu também estava lá". Na minha opinião, essa transparência é um pouco a chave do sucesso.

P - Quando surgiu a idéia de escrever o livro?
R - Surgiu aqui. E foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Quando voltei de viagem, fiquei algumas noites sem dormir. Eu me perguntava: "E agora, vou fazer o quê?". Durante uma semana, dormi muito mal. À noite, acordava com um vazio danado... O livro me ajudou a organizar o que eu estava sentindo. Acordava às 8h da manhã e escrevia feito um louco. Ao todo, levei uns 20 dias para escrever o livro. Foram 10 dias para escrever a parte de cima e 10 para a parte de baixo. A parte de baixo, especialmente, deu um trabalhão danado, mas eu adorei fazer.

P - Você já pensou numa segunda edição da Fantástica Volta ao Mundo?
R - Uma segunda edição? Com outras opções de países? Puxa, seria bacana. Que coisa chata, né? (risos) Mas, falando sério, eu teria de descansar um pouco. Porque esse tipo de produção é um evento! Mal comparando, é quase uma Copa do Mundo. Você tem de guardar aquilo para um momento especial. Talvez em 2006 a gente faça outro, mas ainda não tenho certeza. Se pudesse, exploraria mais a África, o Leste Europeu. Lugar é o que não falta.

P - Que lugares você gostaria de conhecer?
R - Você acreditaria se eu dissesse alguns bem óbvios? Pois acredite, nunca fui ao Egito, por exemplo, e tenho a maior loucura para ir. Já combinei com amigos, mas, na última hora, acaba não rolando. Aqui do lado mesmo, tem um lugar que eu sou doido para conhecer e nunca fui, que é o Chile. Tenho uma viagem dos sonhos que é sair das geleiras, lá na Patagônia, e ir até o Deserto do Atacama. De preferência, sozinho e de carro. Quando saio de férias, adoro pegar o carro e sair por aí.

P - Você foi muito assediado pelo público depois que voltou?
R - Olha, a impressão que eu tive foi a de ter feito outro No Limite. Porque o auge da minha popularidade, até então, tinha sido o No Limite. Aquilo foi realmente um fenômeno. Todo mundo me parava na rua, seja para falar comigo, seja para pedir para participar do programa, aquela coisa toda... Naquela época, o pessoal pedia: "Não dá para colocar meu nome lá". Hoje, a coisa mudou para "Posso ser seu assistente?". Aí, eu respondo sempre: "Olha, pega a senha e entra na fila". (risos)

P - Geralmente, o assédio do público é privilégio de jovens atores. Como você lida com ele?
R - Se você é um jornalista que trabalha em tevê e, principalmente, na Globo, que é uma emissora que tem um alcance absurdo, tem de estar preparado para tudo. Não tenho um especial prazer nisso. Não faço uma reportagem pensando nesse tipo de retorno. Mas é inevitável. A relação das pessoas com a televisão é de paixão. Não importa se você é ator da novela das seis, das sete ou das oito. A diferença é que não se trata de tietagem pura e simples. A relação com o ator é mais histérica, catártica. Comigo, a relação é outra: é de respeito, principalmente.

P - Do que mais você sentiu saudade nos quatro meses em que esteve viajando?
R - Da minha casa. Eu tinha acabado de me mudar, em janeiro de 2004. Quatro meses depois, lá estava eu, viajando pelo mundo. Eu sentia muita saudade da minha casa, da casa que eu não estava podendo curtir. Fora isso, eu costumo dizer que, nesses quatro meses, deixei a saudade de lado. Imagina, no meio da viagem: "Ah, ainda faltam dois meses." Não rola, né? Aí, eu resolvi: "Vou deixar para sentir saudade quando estiver perto de voltar" E foi isso que eu fiz.

P - E dava para administrar a saudade assim de forma tão racional?
R - Ah, dava. Eu sou um cara muito racional. Nessa história toda, tem um abrandador que se chama e-mail. É mais barato do que telefone. Até falar por telefone, via Internet, fico baratíssimo. Eu pagava US$ 0,08 o minuto do Camboja. Começou a valer a pena. A saudade emergencial eu resolvia pela Internet. Mas eu sentia saudade também de contar as histórias que eu estava vivendo para os meus amigos. Contar as histórias para o Guilherme (Azevedo, cinegrafista), não tinha graça, porque ele já conhecia as minhas histórias e eu as dele. Eu ia contar para quem? Queria contar meus "causos" para alguém...

P - E qual foi a pior roubada em que você se meteu?
R - Para se ter uma idéia, se somar todas as minhas horas de vôo, passei 16 dias dentro de um avião. Somando aeroporto, sala de espera, conexão, essas coisas, esse número sobe 21. Mas a pior foi a viagem no Rajastão, na Índia, que não acabava nunca. A certa altura, comecei a achar que a gente estava sendo seqüestrado. (risos) O sujeito usava turbante, bigode e não falava uma só palavra em inglês. E só fazia dirigir. A princípio, a viagem seria de 10 horas. Aí, foram 12, 15, 17... E não chegava nunca. E por estradas que... Putz!, só vendo. Os caminhões, para você ter uma idéia, tinham um aviso atrás: "Por favor, buzine". Eles não têm espelho retrovisor. Aliás, eles não têm nenhuma disciplina no trânsito. Imagine, então, numa estrada. Foi a coisa mais penosa que eu vivi. "Meu Deus, isso não acaba nunca?", pensei.

P - É mais prazeroso viajar por lugares inusitados, como o Rajastão e o Uzbequistão, do que entrevistar astros do rock, como Mick Jagger e Keith Richards, dos Rolling Stones?
R - São dois prazeres completamente diferentes. Confesso que gosto muito de conhecer os caras que estão por trás das músicas que eu adoro. Mas, quase sempre, eles são pessoas muito normais, tão normais quanto as que conheci em minha volta ao mundo. Apesar do prazer que sinto em conhecer o dono da obra, uma viagem dessas dá muito mais retorno. Se tivesse de escolher entre passar o resto da vida entrevistando meus ídolos do rock ou viajando pelos quatro cantos do mundo, escolheria viajar. Seria uma experiência muito mais enriquecedora.

P - De tudo que você já fez na tevê, do que mais você gostou?
R - Do Fantástico, sem dúvida. Parece até que eu fico puxando o saco, mas é um programa muito legal. Qualquer coisa que eu quiser fazer, dá para fazer no Fantástico. Quer um exemplo? Já fiz debate entre adolescentes, viajei para países de Língua Portuguesa, entrevistei de Gisele Bündchen a Bono Vox, dei a volta ao mundo. Para um cara que é meio irrequieto e hiperativo como eu, que não gosta de fazer uma coisa só, não há nada melhor.

Esse tal de rock'n'roll
"De A-Ha a U2". O jornalista Zeca Camargo já escolheu até o título de seu próximo livro. Desde que começou a carreira em 1987, como correspondente do jornal Folha de S. Paulo em Nova York, ele já sabatinou alguns dos maiores nomes do "showbiz" internacional, como Madonna, Elton John e Mick Jagger.

Uma de suas entrevistas favoritas, inclusive, foi com o líder do U2, Bono Vox, que ele descreve como dono de "um magnetismo incrível". "Ele tem um certo poder de hipnose", admite.

Outra entrevista que não pode faltar no livro é a do líder do Nirvana, Kurt Cobain, morto em 94. "Nem gosto muito de tocar nesse assunto, porque ele foi encontrado morto no dia do meu aniversário", emociona-se.

Na maioria das vezes, as entrevistas não duram mais que dez minutos. "Geralmente, consigo uma boa entrevista em 15 minutos. O mais difícil é estabelecer uma certa intimidade com o entrevistado", garante.

Às vezes, porém, Zeca tem a sorte de conversar com um astro internacional, como o inglês George Michael, por quase uma hora. "Foi a primeira entrevista que ele deu depois do escândalo", gaba-se, referindo-se ao episódio em que o cantor foi flagrado, em abril de 98, num banheiro público de Los Angeles, em atitude suspeita com um parceiro.

Mas, para cada George Michael, há um Noel Gallagher, do Oasis. "Como ele detesta imprensa, deu a entrevista o tempo todo virado para o outro lado", queixa-se.

Mas, apesar de toda a sua experiência, Zeca confessa que não evitou a "bandeira" e bancou o tiete quando entrevistou Michael Stirpe, do R.E.M. "Infelizmente, ele percebeu e a entrevista acabou ali mesmo", lamenta.

Quando o R.E.M. se apresentou no Brasil, no Rock in Rio 3, Zeca tornou a entrevistá-lo. E, dessa vez, garante, correu tudo bem.

Tiete por tiete, Zeca ainda sonha com o dia em que vai poder entrevistar Prince. Aí, mais uma vez, vai ter de se segurar para, como ele mesmo diz, "não dar bandeira". "Puxa, o Prince é ídolo total, não saberia nem por onde começar. Gosto de tudo que ele faz!", reconhece, num rompante indisfarçável de tietagem explícita.

Nas voltas que o mundo dá
Não é de hoje que o mineiro de Uberaba, José Carlos Camargo, gosta de viajar. A primeira viagem internacional do rapaz aconteceu em 1973, quando a família visitou a Argentina. No hotel de Buenos Aires em que os Camargo se hospedaram, Zeca e os irmãos, Carlos Eduardo e Luiz Carlos, hoje com 38 e 39 anos respectivamente, ficaram conhecidos como "los diablitos". "A gente aprontava muito", ri.

Sete anos depois, como presente por ter passado no Vestibular para Administração de Empresas e Publicidade, Zeca ficou dois meses percorrendo a Europa com uma mochila nas costas. "Como perdi o passaporte que tinha com meus irmãos, tenho guardado apenas meus sete últimos", contabiliza.

De volta ao Brasil, Zeca cursou as duas faculdades paralelamente. "Eu me formei, mas não fui trabalhar. Nessa época, só fazia dançar. O jornalismo só apareceu na minha vida três anos depois", lembra ele.

De fato, de 1983 a 87, Zeca ganhou a vida como dançarino. Entre as muitas alunas que teve, destaca as atrizes Marisa Orth e Giulia Gam e até a ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Nessa época, o futuro jornalista fez alguns "bicos" também numa galeria de arte em São Paulo. Foi ali, inclusive, que ele reencontrou uma antiga amiga do pré-vestibular, Lílian Pacce, apresentadora do GNT Fashion, que o convidou para trabalhar na Folha de S. Paulo, onde ficou de 1987 a 90.

Em outubro de 90, Zeca foi convidado a fazer parte da geração que inauguraria a MTV no Brasil. Logo, chegou a diretor de programação. Embora tenha sido demitido em 94, guarda as melhores lembranças possíveis da emissora musical. "Éramos um bando de moleques aprendendo a fazer televisão na marra. Foi uma experiência e tanto", avalia ele, que trabalhou ao lado, entre outras, de Astrid Fontenelle e Cuca Lazzarotto, hoje na Band e na Rede Brasil, respectivamente.

Antes de se firmar na Globo, onde chegou em julho de 96, Zeca passou ainda pela Cultura, onde apresentou o Fanzine por um ano. "O dia em que não tiver nada para fazer da vida, volto a dar aula de dança", garante, bem-humorado.
 

TV Press
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