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Domingo, 8 de agosto de 2004, 10h36 
"Legal é sempre começar do zero", diz Glória Maria
 
André Bernardo
 
Divulgação
Glória Maria: 123 países em 32 anos de jornalismo
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Em 32 anos de jornalismo, Glória Maria já acumulou mais milhagem do que muito comandante de companhia aérea. Desde que estreou na Globo, em 1972, a atual âncora do Fantástico já visitou 123 países. Só o Brasil, ela já percorreu quatro vezes. "Se eu passo 15 dias sem viajar, já começa a me dar um negócio esquisito", brinca ela.

Veja fotos da carreira de Glória Maria!

A próxima parada de Glória é a Grécia. A partir do dia 13, ela participa da cobertura das Olimpíadas de Atenas, a terceira de sua carreira. "Costumo dizer que o passado é história e o futuro, interrogação. O legal é sempre começar do zero a cada nova reportagem", ensina a repórter, que cobriu as Olímpiadas de Los Angeles, em 1984, e de Atlanta, em 1996.

Das inúmeras reportagens que fez, Glória Maria se orgulha de uma entrevista com o atleta norte-americano Edwin Moses, responsável pelo juramento olímpico em Los Angeles. Mas Glória se orgulha também de ter sido a primeira mulher brasileira a fazer a cobertura jornalística de uma guerra, a das Malvinas, em 1982.

No mesmo ano, ela viveu um perigo diferente ao se tornar, também, a primeira repórter a mostrar as emoções de um vôo duplo de asa-delta. "Felizmente, deu tudo certo, mas a idéia, é bom que se diga, não foi minha. A partir daí, o pessoal começou a achar que eu era corajosa e passou a me escalar para essas roubadas", protesta, bem-humorada.

Mas Glória Maria Malta da Silva não teria chegado onde chegou sem uma boa dose de coragem. Carioca de Vila Isabel, ela trabalhava na Companhia Telefônica Brasileira enquanto cursava Jornalismo na Pontifícia Universidade Carioca, a PUC, do Rio. O salário de telefonista financiava o sonho de uma futura carreira como jornalista.

O início na Globo, porém, não foi dos mais fáceis. Primeira repórter negra da emissora, já viveu inúmeras situações discriminatórias. Como aquela em 1978, quando a então repórter do RJTV teve de recorrer à Lei Afonso Arinos depois de ser proibida de entrar em um hotel em Copacabana. "Hoje, já não tenho a pretensão de achar que vou estar viva para ver o fim do racismo", conforma-se.

P - Você já cobriu de guerra a Copa do Mundo. Qual é a emoção de cobrir uma Olimpíada?
R - Em termos de reportagem, não vejo diferença nenhuma. Para mim, é tudo igual. Tanto faz cobrir uma guerra ou uma Olimpíada. É mais uma oportunidade que eu vou ter para aprender coisas novas. Cada trabalho, aliás, é sempre uma novidade. "Ah, mas eu já cobri uma Olimpíada e sei como é que é...". Não, eu nunca vou saber de nada. Eu vou cobrir a Olimpíada de Atenas com o mesmo entusiasmo com que cobri a de Los Angeles, em 1984. O legal é estar sempre começando do zero. Tudo é uma grande descoberta para mim.

P - E como você costuma se preparar para um evento esportivo desses?
R - Aqui na Globo, a gente tem até palestra. O pessoal se prepara mesmo. Mas, na minha opinião, não adianta você pesquisar, se preparar... Quando você chega lá, é que você vai ter de se virar... Nessas horas, o que faz a diferença é a alma de repórter. Eu, pelo menos, só funciono assim. Por mais que eu pesquise e me prepare, gosto de viver o momento presente. Como é que eu vou me virar aqui? Isso é o mais legal de tudo. Gosto do desafio, do novo. Gosto de ter noção da minha ignorância para sempre poder aprender um pouco mais. Se não, você se fecha para o mundo. Quanto mais você acha que sabe, menos você sabe.

P - Qual sua lembrança mais emocionante nas Olimpíadas que você cobriu?
R - O dia da abertura da Olimpíada de Los Angeles. Eu fui escalada para ficar do lado de fora do estádio, acompanhando a movimentação do público. Enquanto isso, o Armando Nogueira avisou os repórteres que estavam no estádio que o Edwin Moses faria o juramento olímpico e que seria bom se alguém o entrevistasse. A essa altura, passei pelo lugar onde paravam os ônibus que conduziam os atletas até o estádio. Foi aí que o meu radinho caiu. Quando me abaixei para pegá-lo, vi duas pernas na minha frente. Quando me levantei, achei que estivesse louca. "Você é o Edwin Moses?", perguntei. "Por acaso, sou!", respondeu ele. Fizemos o juramento ali mesmo. Depois, peguei o rádio para avisar o pessoal. Acontece que ninguém me deu atenção, ninguém acreditou em mim. O que eu fiz? Peguei uma moto e levei a fita até o caminhão de transmissão...

P - E de toda a sua carreira? Qual seria a sua reportagem favorita?
R - Ah, tem tantas... Essa do Edwin Moses é uma delas... Outra de que eu me orgulho muito foi quando cobri a tomada da embaixada japonesa no Peru por terroristas. Fiquei 12 dias lá com o meu câmara. Passei o Natal no meio da rua. Lá pelas tantas, começou o tititi sobre uma possível libertação de reféns. Todas as equipes se plantaram na frente da embaixada. A gente, inclusive. Mas não sei o que me deu. Virei para o câmara e disse: "Vamos para o outro lado!". Ele me falou: "Você enlouqueceu? Até a gente chegar lá, eles já saíram...". Eu respondi: "Vamos arriscar...". E saímos, que nem dois loucos, correndo até o outro lado da embaixada. Quando chegamos lá, demos de cara com o embaixador brasileiro, responsável pelas negociações. Aí, gritei e ele veio na minha direção. Às vezes, me dá umas coisas do tipo: "Vai e faz!". Aí, eu vou e faço. Nem discuto.

P - E "roubada"? Você já temeu alguma vez por sua própria vida?
R - Temer pela própria vida, não. Mas já tive medos absurdos. Quando viajei para o Havaí, por exemplo, fiz uma matéria sobre o vulcão Kilauea, que está permanentemente em erupção. Um piloto da região aceitou sobrevoar o vulcão. Sugeri que pousasse e o piloto, que era mais maluco do que eu, pousou. A temperatura era tão alta, mas tão alta que pensei... "Caceta, acho que vou pegar fogo...". A impressão que eu tinha é que estava incandescente. Depois que alçamos vôo, o piloto disse que não sabia porque fez aquilo. Afinal, o helicóptero poderia não conseguir levantar vôo por causa do calor... Foi arriscado à beça...

P - Ao longo da carreira, você já visitou 123 países. Qual o mais surpreendente?
R - Olha, a Índia foi uma porrada na minha cara. Meu sonho era mergulhar no Ganges, o rio sagrado. Quando cheguei lá para mergulhar, você não acredita... É tudo tão absurdamente sujo... Você não faz idéia! O pessoal toma banho, escova os dentes, faz xixi no Ganges... Além disso, o maior crematório de Nova Déli fica às margens do Ganges. Pegamos um barco e eu, morrendo de pavor de o barco virar. Eu preferia morrer a cair naquela água. Como todo mundo por lá é cremado, você sente o cheiro de carne queimada no ar.

P - Mas essa rotina de viagens, hotéis e aeroportos não cansa?
R - De jeito nenhum. Adoro avião, aeroporto, viajar. Não tenho problemas com fuso horário, nem com comida de hotel. Eu fico mal é quando não viajo! Um mês sem viajar e já começa a me dar um negócio esquisito. Eu tenho medo de ficar burra. Porque, quando você viaja, você aprende coisas novas, conhece gente nova. Quanto mais você viaja, mais você vê que o mundo é um só. Por essas e outras, quero morrer viajando... Morrer, não. Quero viver viajando...

P - Você tornou-se uma pioneira na prática de esportes radicais. Como surgiu a idéia de praticar vôo duplo de asa-delta em 1982?
R - O jornalista Zózimo Barroso do Amaral, que era um grande amigo meu, foi convidado para fazer um comercial em São Conrado. Como ele nunca tinha feito, pediu para ajudá-lo. Lá, um dos meninos da asa-delta veio conversar comigo e falou do tal vôo duplo. Quando cheguei na redação, boba que sou, fui falar com o Luizinho, o Luiz Nascimento. "Imagina, voar naquilo...". "Mas é claro que você vai", respondeu ele. "Vamos fazer uma matéria para o 'Esporte Espetacular'"... Em menos de 24 horas, ele armou tudo. E lá fui eu, morrendo de pavor. A princípio, não consegui chegar nem na rampa. Felizmente, deu tudo certo. Narrei 18 minutos de vôo. Depois disso, já voei várias vezes. Mas a primeira delas, é bom que se diga, não foi idéia minha.

P - Você ficou famosa exatamente por interagir com as matérias que faz. Como manter a isenção num momento de tensão como aquele do vôo livre?
R - Ah, mas não dá... Não dá mesmo. Certa vez, fui cobrir uma enchente em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Chegando lá, os bombeiros tentavam resgatar uma senhora que tinha acabado de ter neném. De repente, o barco vira, com a mulher e o bebezinho dentro. O que eu podia fazer? Continuar a minha matéria como se nada estivesse acontecendo? Não... Comecei a berrar por socorro. Os bombeiros tinham de salvar aquela mulher. E, graças a Deus, salvaram. Eu berrei o tempo todo. E berraria mais um milhão de vezes. Vou deixar uma mulher morrer na minha frente só porque sou repórter? Existem coisas que estão acima do meu trabalho. A vida de uma pessoa, por exemplo. Seja ela quem for. Não dá para manter a isenção. Aliás, isenção de quê? De responsabilidade? Não posso pensar só no meu bem-estar. Isso não é viver. Isso não faz parte do meu show...

Nas asas da aventura
As musas dos esportes radicais, como Daniela Monteiro, Lívia Lemos e Luize Altenhofen, ainda estavam engatinhando quando Glória Maria já aprontava das suas. Apesar de garantir que o tal vôo duplo de asa-delta tenha sido traumático, ela não parou mais. A intrépida repórter já praticou rapel no bondinho do Pão de Açúcar, escalada no Corcovado, balonismo nas Cataratas do Iguaçu... Tudo, aliás, idéia do diretor Luiz Nascimento, atualmente no Fantástico, a quem Glória chama carinhosamente de Luizinho. "As pessoas pensam que sou maluca. Mas o maluco aqui é ele. Para você ter idéia, não sei nem dirigir carro", esclarece.

A última "maluquice" de Luiz Nascimento foi convidar Glória Maria para participar de um Desafio do Faustão. O tal desafio consistia na travessia de uma passarela de 35 metros suspensa entre dois balões a uma altura vertiginosa de 3.800 m. Ao chegar lá em cima, Glória estava tão apavorada que não conseguia sequer sair do balão. Mas saiu. E com uma corda amarrada à cintura e um microfone de lapela, cumpriu o desafio. "O pior é que eu não conseguia olhar para baixo. Mas tinha de olhar senão errava o pé e podia cair", recorda. Mais tarde, em terra firme, Glória Maria entendeu porque Taís Araújo declinou gentilmente do convite da produção.

Mas o pior ainda estava por vir. Pior do que fazer estripulias no ar, só mesmo debaixo d'água. "Tenho pavor de bicho e horror ao fundo do mar", confessa. Bobagem. No Taiti, a pauta era mergulhar entre inofensivas arraias. Parecia simples, mas bastou Glória oferecer comida para umas 20 delas aparecerem do nada. Apavorada, a repórter jogou tudo longe e voltou para o barco. Depois, ainda teve de ouvir as reclamações do câmara, que não registrou a repórter alimentando os bichinhos. "Esses câmaras são todos uns canalhas. Eles fazem o que querem comigo porque sabem que fico com raiva, digo que vou matar, mas depois passa", afirma ela.

Conexão internacional
Michael Jackson, Júlio Iglesias, Mick Jagger. A galeria de celebridades entrevistadas por Glória Maria é das mais extensas. Tudo começou em 1973, quando Glória foi escalada para cobrir a posse do presidente norte-americano Jimmy Carter. "Nem falava inglês ainda. Mas ele me ajudou muito", confessa.

Outro entrevistado famoso que se sensibilizou com a humildade da entrevistadora brasileira foi o roqueiro Mick Jagger, líder dos Rolling Stones. Antes de a entrevista começar, ela foi logo dizendo que o seu inglês era uma "porcaria". "Quando eu tinha dificuldade para dizer uma determinada palavra, ele logo vinha em meu auxílio", gaba-se ela.

Não foram poucos os astros internacionais, porém, que se renderam à simpatia da jornalista brasileira. Michael Jackson foi um deles. Ao término da célebre entrevista no Morro do Santa Marta, no Rio de Janeiro, onde gravou o clipe da música They Don't Care About Us, Michael Jackson não resistiu e tascou um beijo no rosto da repórter. "A fita está aí para quem quiser ver", provoca.

Na Bahia, foi a vez de Harrison Ford. Diante do suor que porejava na testa do ator, a repórter pediu que a assessora enxugasse o eterno Indiana Jones. Assanhado, ele retrucou: "Só se ela me secar com a sua toalhinha...", reproduz a jornalista, toda prosa.

Mas Glória já se deparou também com situações embaraçosas. Quando entrevistou Nicole Kidman, por exemplo, arriscou fazer perguntas sobre a separação de Tom Cruise. Apesar dos protestos veementes dos assessores da atriz... "Parecia mesmo que ela estava precisando se desabafar", observa.

Já os assessores de Leonardo DiCaprio não deixaram que a repórter fizesse as perguntas em português. Lá pelas tantas, porém, o ator interrompeu a entrevista e pediu que Glória fizesse as perguntas no idioma que bem entendesse. "Lá fora, ninguém sabe quem eu sou. Não dá para chegar como uma superstar. Mesmo porque eu não sou mesmo", garante.
 

TV Press
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