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Domingo, 18 de janeiro de 2004, 18h39 
Taís Araújo vira a 1ª protagonista negra da Globo
 
Renata Petrocelli
 
Cláudio Andrade/Especial para Terra
Minha primeira reação foi cair no choro. Não tanto por mim, mas por todos que vêm batalhando por isso há anos, Taís Araújo
"Minha primeira reação foi cair no choro. Não tanto por mim, mas por todos que vêm batalhando por isso há anos", Taís Araújo
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Em 1996, Taís Araújo se tornou a primeira atriz negra a protagonizar uma novela. Era Xica da Silva, exibida pela extinta TV Manchete, na qual interpretava a escrava que escandalizou a sociedade do Século XVIII. Oito anos depois, a mesma atriz é também a primeira protagonista negra de uma novela da Globo. Ela vai estrelar Da Cor do Pecado, que a emissora estréia no próximo dia 26. Desta vez, na pele de uma jovem comum, que vai disputar o coração do mocinho da trama, interpretado pelo galã Reynaldo Gianecchini.

Galeria de fotos dos negros que estão ganhando espaço na TV

Como provam os papéis de Taís, alguma coisa mudou neste intervalo de tempo. O Brasil que aparece na tevê está "um pouco mais negro". Além disso, já é possível ver atores negros bem longe do estereótipo do bandido ou do serviçal - como o fotógrafo Bruno, interpretado por Sérgio Menezes em Celebridade, ou o aficcionado por computadores Mateus, vivido por Jorge de Sá em Malhação. "Minha primeira reação foi cair no choro. Não tanto por mim, mas por todos que vêm batalhando por isso há anos", vibra Taís, ao falar sobre a escolha da emissora para viver Preta na trama das sete.

De fato, a escalação da atriz é saudada com esperança por atores que sempre lutaram pela inserção dos negros no mercado de trabalho artístico. A atriz Zezé Motta, que em 1984 resolveu cadastrar e apoiar os artistas negros através do CIDAN - Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro -, acredita que a situação tenha realmente mudado. "Tinha certeza de que isso aconteceria. Já sinto uma preocupação da mídia com a distribuição de papéis", avalia Zezé, que vai estar no elenco de Metamorphoses, a próxima novela da Record, no papel de uma enfermeira. Já Camila Pitanga, que viveu a médica Luciana em Mulheres Apaixonadas, acha que ainda há muito o que conquistar. "É claro que estamos caminhando, mas ainda não há um equilíbrio em relação àquilo que o negro já representa na sociedade", opina.

Em Da Cor do Pecado, o autor João Emanuel Carneiro não pretende abordar a questão racial no relacionamento entre Preta, personagem de Taís, e Paco, vivido por Gianecchini. Em lugar de discutir o preconceito, ele preferiu optar pela naturalidade ao retratar o romance entre uma negra e um branco. "Não quero levantar bandeira, mas a relação é oportuna, principalmente num país de fortes contrastes sociais", explica o autor. Da mesma forma, Gilberto Braga conta que se valeu de uma "estratégia" parecida para tratar do preconceito em Celebridade. "Dizem que um dos modos de lutar contra o racismo é falsear a realidade, mostrar negros que não sofrem qualquer tipo de discriminação", conta Gilberto, que se diz satisfeito com o resultado. Além do fotógrafo Bruno, a trama mostra Janaína Lince no papel de Zaíra, uma das assessoras de Maria Clara na Melo Diniz. "Deve ser agradável para uma criança pobre e negra, num país racista como o nosso, ver o Sérgio no Bruno ou a Janaína na Zaíra", comenta o autor.

Mas a profissão ou a posição social dos personagens não é fator determinante para todos os atores. Sheron Menezes vive a segunda doméstica de sua recente carreira em Celebridade - a primeira foi em Esperança, sua estréia em novelas. A atriz aposta na história e no conteúdo que cerca a personagem para dizer se um papel é bom ou não. "Se tiver uma história em torno dela, uma doméstica pode ser um excelente papel", opina. Zezé concorda com a jovem atriz, e vê neste aspecto mais uma prova da evolução. "Há 30 anos, os personagens negros não tinham nem parente distante. Hoje, vários deles vivem sem estar a reboque dos brancos", compara.

Um bom exemplo é o seriado Turma do Gueto, da Record, atualmente em sua quarta temporada. Com elenco formado essencialmente por negros, foi a maior audiência da Record em 2003. A história gira em torno de uma comunidade pobre e marginalizada, mas o diretor Pedro Siaretta não vê nisso nenhum demérito. Muito pelo contrário. "Isso só prova que o público tem interesse em ver o que se passa na periferia. E que há espaço para se discutir o preconceito na tevê", acredita.

Idéias em Contraste
O sucesso de seriados como Turma do Gueto, da Record, ou Cidade dos Homens, que já teve duas temporadas na Globo, levanta uma polêmica entre os defensores do espaço do negro na tela. Há quem acredite que não adianta o negro aparecer apenas como pobre e favelado. "É preciso que o negro apareça também em outras camadas sociais", defende Sérgio Menezes.

A própria Taís, apesar de reconhecer que Xica da Silva foi um marco em sua carreira, pondera a diferença entre o trabalho na Manchete e o que vai ter a oportunidade de desenvolver agora em Da Cor do Pecado. "Foi bacana, mas era uma escrava. É claro que tinha de ser uma negra!", enfatiza.

Outros, no entanto, julgam mais importante o simples fato de o negro se reconhecer na tela. À época em que idealizou o seriado Turma do Gueto, o cantor Netinho se inspirou na educação da criança negra. "Não existe um galã negro. As crianças da periferia só têm três exemplos a seguir: o esporte, a música ou o tráfico", destacou o cantor.

Já Gilberto Braga, que vê no fato de mostrar personagens negros que não sofrem preconceito uma estratégia contra o racismo, acredita que ainda há muito o que se falar sobre o tema. "Continuo achando que histórias sobre o racismo que nos cerca ainda devem ser escritas", opina.

Instantâneas
# Atualmente, o Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro tem cerca de 500 atores cadastrados. De lá, já saíram nomes para o elenco de filmes como Cidade de Deus, O Xangô de Baker Street, Cruz e Souza, O Menino Maluquinho e Madame Satã.
# O ator Robson Nunes, que viveu o estudante Sávio, em Malhação, ficou surpreso ao ganhar o papel. "Quando me chamaram, achei que fosse fazer uma participação como um marginal", revela Robson, que já tinha interpretado um malandro, um detento e um motoboy que "fazia bicos como assaltante".
# Antes de protagonizar Xica da Silva, Taís Araújo estrelou o comercial "Chocolate com Guaraná", da Antarctica.
# Em 1989, Sebastião Aparecido Fonseca, o Sebastian, foi o primeiro ator negro a estrelar uma campanha de publicidade no Brasil, a da C&A. "Foi preciso uma multinacional européia perceber que o mercado brasileiro é multicolorido. Minha presença no vídeo chamou a atenção para isso", orgulha-se.
 

TV Press
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