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Segunda, 11 de junho de 2007, 11h29  Atualizada às 11h40
Ariano Suassuna lança microssérie e pede sossego
 
Alexsandra Bentemüller
 
Cleomir Tavares/Photo Rio News
Ariano Suassuna é o centro das atenções em lançamento de microssérie
Ariano Suassuna é o centro das atenções em lançamento de microssérie
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Rei e palhaço. Assim foi Ariano Suassuna, 79 anos, em sua passagem no lançamento da microssérie A Pedra do Reino, realizado na noite deste domingo no Centro Cultural Ação da Cidadania, centro do Rio de Janeiro. "Gostaria de ter sossego para poder escrever o meu romance. Não estão deixando", disse, arrancando risos dos fãs, ao percorrer um túnel com a cronologia de sua vida.

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A Pedra do Reino

Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, 47, a microssérie, que vai ao ar a partir desta terça-feira pela TV Globo, é uma releitura da obra de Suassuna e inaugura o projeto Quadrante, que prevê a adaptação de Machado de Assis e Milton Hatou.

Naturalmente engraçado, o escritor paraibano - pernambucano só por adoção -, agitou os presentes a cada passo demorado que dava ao lado da mulher, Zélia de Andrade Lima, e da filha Mariana pelo Centro Cultural Ação da Cidadania, onde foi aberta na ocasião uma exposição que mostra o processo de criação da microssérie. "Esse assédio é trabalhoso. Se a outra alternativa for a indiferença, eu prefiro o carinho mesmo que trabalhoso", falou.

Emocionado, Suassuna recebeu uma salva de palmas e saudações pelos 80 anos de vida que serão completados no próximo sábado. Segundo ele, nessas oito décadas de existência, sobra orgulho ao ser considerado um dos principais defensores da cultura nacional. "Sempre quis mesmo essa posição. Eu sempre achei que como escritor e professor eu devia defender a cultura brasileira. Tomei essa decisão aos 20 anos. E continuo pensando desse jeito", falou.

As demonstrações de carinho seguiram com abraços, pedidos de autógrafos e fotos dos fãs ávidos para conseguir tocar e falar com o soberano da noite, que ficou rigorosamente uma hora no local.

As palavras saíram com mais dificuldade na hora de comentar a emoção de ver A Pedra do Reino adaptada para a televisão. "Eu não podia esperar coisa melhor. O que o Luiz Fernando Carvalho fez foi uma releitura da obra. E tinha que ser assim. É a transposição de uma arte para a outra. Pelo o que vi, ele procurou ser fiel ao espírito mágico e poético do romance", disse.

A história de A Pedra do Reino é narrada por Pedro Diniz Ferreira Quaderna (Irandhir Santos), em três momentos. No primeiro, ele está preso durante o período do Estado Novo (1937-1945), em Taperoá, na Paraíba, e começa a escrever sua história, a partir das memórias de seus ancestrais.

No segundo, aparece como um velho palhaço que conta seu passado num teatro improvisado no centro do vilarejo. Por fim, enfrenta o juiz corregedor que investiga a morte de seu padrinho, dom Pedro Sebastião Garcia-Barreto. "Das obras publicadas até agora é a minha preferida. Foi onde eu expressei de modo menos incompleto o universo interior que tumultua dentro de mim", garantiu o escritor.

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista que Ariano Suassuna concedeu ao Terra durante seu passeio pelos diferentes ambientes da exposição A Pedra do Reino, que fica em cartaz até 30 de junho no Centro Cultural da Ação da Cidadania (r. Barão de Tefé, 75, Saúde, Rio de Janeiro):

É verdade que o senhor considera A Pedra do Reino a sua obra preferida?
Das obras publicadas até agora é sim a minha preferida. Foi nela que eu expressei de modo menos incompleto o universo interior que tumultua dentro de mim.

O senhor completará 80 anos de vida no próximo sábado. Qual seria a comemoração ideal? O que gostaria de ganhar?
80 anos. Inacreditável, né? (risos). Pra mim, não podia ter comemoração melhor do que esta que já está havendo. Hoje, não me sinto somente um paraibano e um nordestino. Eu me sinto um brasileiro. Tenho viajado o Brasil e sido bem recebido, principalmente pela juventude. Não preciso de prêmio maior do que esse. Gostaria de ter sossego para poder escrever o meu romance. Não estão deixando.

Isso é uma queixa?
Não. Esse assédio é trabalhoso. Se a outra alternativa for a indiferença, eu prefiro o carinho mesmo que trabalhoso.

Há quanto tempo o senhor está escrevendo esse romance?
Já faz tanto tempo que eu fico até acanhado de dizer. Eu comecei em 1981. Não acabei ainda.

Qual é o título que pretende dar ao livro?
Não tem nome ainda não. Eu só batizo a criança depois que nasce (risos).

O que o senhor mudaria na sua vida se vivesse esses 80 anos de novo?
Na minha trajetória, não tem muita coisa não. Eu gostaria de ver diminuída essa diferença tremenda e injusta que existe entre o Brasil dos privilegiados e o Brasil dos despossuídos.

O senhor acha que faria algo por isso?
Não. Eu não fiz nada por isso não. Eu sou um escritor. Em O Auto da Compadecida fica perfeitamente claro que eu estou do lado de Chicó e João Grilo. Eu me limito a fazer isso. É o que eu posso fazer. E com isso indicar um caminho para os políticos para que essa dilaceração dolorosa desapareça.

O senhor atingiu em vida a notoriedade. Como se sente?
Eu considero uma demonstração de carinho do povo brasileiro. Fico muito orgulhoso, muito contente. E procuro não ficar convencido e antipático (risos).

Qual é a expectativa de ver A Pedra do Reino parar na televisão?
Eu faço uma distinção entre sucesso e êxito. Sucesso é uma coisa enigmática e quase sempre efêmera. Tenho a certeza que essa microssérie será um êxito. Eu tenho confiança total no Luiz Fernando Carvalho. O ideal é que se juntem sucesso e êxito. Mas isso só depois a gente vai ver. Recebo esse seriado com muita alegria. Eu não podia esperar coisa melhor. O que o Luiz Fernando Carvalho fez foi uma releitura da A Pedra do Reino. E tinha que ser assim. É a transposição de uma arte para a outra. Pelo o que eu vi, ele procurou ser fiel ao espírito mágico e poético do romance.

O que o senhor achou da biografia não-autorizada de Roberto Carlos que foi retirada de circulação?
Não estou sabendo. É para eu dar uma entrevista sobre o Roberto Carlos? Não quero falar disso não.

O senhor nunca disfarçou o que pensa ou o que é. A opinião dos outros importa?
É claro que importa, mas eu tenho convicções e as mantenho desde muito jovem. Sou fiel às minhas convicções. Eu não mudo enquanto não chegar à conclusão que estou errado.

Houve um momento que o senhor percebeu que errou e precisou voltar atrás?
Sim. Na interpretação do Brasil. Eu dou muita importância a Canudos. Acho que foi o episódio mais significativo da história do País. Em Canudos, foi o Brasil capitalista e urbano que cortou a cabeça do Brasil pobre e rural. E eu estou do lado de Canudos. Também sou de origem rural. Mas eu nunca tinha percebido que a violência que acontece nas favelas é uma repetição de Canudos. Eu não idealizo. Em Canudos, haviam criminosos, ladrões de cavalos e assassinos. Nas favelas, existem traficantes e assassinos. Mas a imensa maioria é de um povo pobre, honrado e trabalhador. Essa distância precisa acabar.

O que o senhor acha do músico Gilberto Gil como ministro da cultura?
Eu acho bom. Tenho discordâncias artísticas em relação a ele. Mas como ministro ele fez coisas boas. Ele está prestigiando a cultura popular.

O senhor é considerado um dos principais defensores da cultura nacional. O passa na sua cabeça sempre que alguém diz isso?
Eu fico muito contente porque eu sempre quis mesmo essa posição. Eu sempre achei que como escritor e professor devia defender a cultura brasileira. Tomei essa decisão aos 20 anos. E continuo pensando desse jeito.

Você já teve vontade de matar alguém de tanta indignação?
Não. Eu sou um homem pacífico.

O senhor gostaria de chegar aos 100 anos de vida?
Só se puder me manter lúcido e trabalhando. Só assim.
 

Redação Terra
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