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Páginas da Vida
Sábado, 13 de janeiro de 2007, 10h47  Atualizada às 10h47
Lilia Cabral torce para Marta morrer em "Páginas da Vida"
 
Gabriela Germano
 
Márcio de Souza/TV Globo/Divulgação
A atriz Lilia Cabral
A atriz Lilia Cabral
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Na sala de sua confortável residência no Jardim Botânico, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, Lilia Cabral demonstra serenidade. Nem parece viver Marta, a mais carismática personagem de Páginas da Vida. "Ator é um interruptor. A gente liga e desliga as emoções", simplifica a atriz, que vive o auge da popularidade. "Quando não chega um capítulo, fico meio perdida. A personagem já faz parte da minha rotina", conta.

Leia o resumo da novela

Com mais de 20 anos de carreira televisiva - Lilia estreou nos folhetins em Os Imigrantes, da Band, em 1981 - a atual novela das oito é o trabalho da atriz que mais repercutiu. "É um personagem doloroso e que faz muito sucesso. Na hora que a novela acabar, vou ter de administrar o vazio e me acostumar a não conferir os e-mails toda hora para ver se o capítulo chegou", assume a atriz. Leia a seguir a entrevista com Lilia Cabral.

Páginas da Vida já completou seis meses no ar. No início, muita gente rejeitava as atitudes da Marta, mas com o desenvolvimento da história e com a resignação do Alex, as pessoas até assumem que sentem pena da personagem. Como você a avalia?
Não sinto pena da Marta. E, se sentisse, faria com que o público ficasse com dó dela. Essa não é a função da personagem. Ela é uma mulher que se mostra através de suas atitudes, é digna de pena, mas ao mesmo tempo é digna de ódio. Esse confronto de sentimentos é permanente para o público. Se eu demonstrar qualquer atitude de compaixão pela Marta, estarei defendendo-a. E não posso defendê-la porque senão a personagem fica morna. Não posso ficar justificando cada atitude dela.

Parte do público passou a entendê-la mais com o decorrer da trama porque a Marta é um fragmento de outras pessoas?
Acho que é mais ou menos isso mesmo. Nas tragédias gregas ou shakespeareanas, todos os personagens têm falhas enormes. A Marta tem várias falhas trágicas. As pessoas têm vergonha de dizer que têm preconceito. No convívio social se mostram politicamente corretas, mas quando chegam em casa revelam seus reais sentimentos. É assim em relação aos homossexuais. E em relação a crianças com Síndrome de Down é pior ainda. Na frente dos outros dizem: "Olha, que gracinha". Mas entre quatro paredes contam que jamais fariam, por exemplo, o que a Helena - personagem da Regina Duarte - fez. Quando chegam em casa pensam: "Graças a Deus meu filho não tem Down". Todas essas coisas a Marta fala, assume e faz. Porque a vida não facilitou com ela, então ela não facilita com a vida. E quando o público se pega pensando como ela, há uma certa condescendência. De vez em quando as pessoas chegam até mim e falam que concordam com algumas atitudes dela. Isso acontece desde o início da novela. Lembro-me de quando ela bateu o carro, o marido não fez nada, ela saiu e teve de resolver tudo sozinha. Então ela chegou em casa, pensou em como sua vida é desgraçada e chorou, sozinha. Muita gente deve ter se visto ali.

Você acha que a Marta já foi feliz com esse marido inexpressivo e apático?
Acredito que sim. E o Maneco deixa isso transparecer em alguns momentos. Porque se a pessoa não amou nunca, não sentiu nada nunca, essa relação não existiria. Há uma fraqueza de sentimentos ali que não deixa um se desvencilhar do outro. Mas com os acontecimentos mais recentes, como Marta esconder que a neta está viva, ainda vai dar pano para manga.

Você sabe o que vai acontecer?
Não. E prefiro não saber mesmo porque, caso contrário, acabo indo armada para gravar a cena. Lido melhor com o fator surpresa do que com o futuro da personagem todo traçadinho. Quando já sabemos o que acontecerá, existe a tendência de torcermos para que a história tome um rumo ou outro. Acho que, como na vida, as coisas vão acontecendo, evoluindo. Se sei o próximo passo, fico predisposta a seguir por determinado caminho. Não gosto disso.

Desde que a novela estreou, você teve alguma reação negativa do público?
Não. Ninguém me disse desaforo ou foi violento. Acho que antigamente confundiam mais ator com personagem. Na época em que a Beatriz Segall fez a Odete Roitman, por exemplo. Ela falava o que sentia sem pudor, não gostava de pobre e tinha atitudes muito agressivas. A atriz acabou ficando com o estigma. Um dia desses, em uma cena, a campainha tocava e eu dizia: "tomara que não seja mais um pivete do Cantagalo". O pessoal do Cantagalo ficou triste e entendo perfeitamente. Afinal de contas, me referi a uma favela, um lugar violento, mas a maioria das pessoas que vive lá é trabalhadora e tenta viver dignamente. E quando isso aparece na televisão parece que lá só tem pivete. Pelo que sei a comunidade de lá não confundiu atriz e personagem. Se não me conhecem direito, no entanto, podem achar que penso como a Marta. É uma situação que pode ser perigosa.

E você tenta se defender desses perigos da personagem de alguma forma?
Algumas coisas são difíceis de dizer, de interpretar, porque não fazem parte de mim nem um pouco. Mas não posso defendê-la e tenho de aprender a dividir as coisas. Senão vou me tornar a atriz que mistura as coisas. Faço o papel sem pudor. Não alivio em nada na hora de dar vida ao texto. Se é para humilhar, eu humilho. O que está escrito eu falo. Por que vou tentar ser cuidadosa, correta? Não é assim que deve ser.

Quando o Manoel Carlos a convidou para participar da novela, você disse a ele que gostaria de fazer uma personagem má, uma peste. A Marta superou suas expectativas?
O Maneco já escreveu pestes piores. Eu mesma, em História de Amor, fazia a Sheyla, uma dissimulada que fazia verdadeiras loucuras por causa do ex-marido. Mas a Marta é diferente. É uma mulher doente de afeto, de carência, ela é cheia de frustrações. As atitudes dela são de uma pessoa que tem o coração machucado, repleto de amargura. Não esperava que fosse uma personagem tão polêmica e que fosse cair na boca do povo. É que, na verdade, esse papel caiu para um lado muito humano. A Marta é uma vilã humana. Ninguém defende o vilão. Mas no caso da Marta, a maioria das pessoas que me aborda fala que entende as atitudes dela. Foi uma personagem surpreendente para mim e acho que para o público também. Talvez as pessoas não estivessem esperando uma vilã assim. Ainda mais depois de Belíssima, que contava com vilões muito característicos, bem marcados.

Na sua opinião, que fim a Marta deve ter na novela?
Eu gostaria que ela morresse. Porque não há o que fazer com ela. Arrumar um homem para suprir suas carências? Não acho esse um bom fim para ela.

Acredita que existe alguma chance da personagem voltar a ser feliz com o Alex?
Acho difícil. Por causa da mentira que ela inventou. Ela disse que a neta morreu, poxa! E de repente a menina aparece. De acordo com a personalidade que vem demonstrando até agora, o Alex jamais a perdoaria. Mas ele também tem sua parcela de culpa para a Marta ser assim. Aquele jeito piegas de ser. É uma pessoa fraca, e que também é violenta. A atitude que ela demonstra com o Léo, pai das crianças, é muito violenta. Muitos torcem pelo Alex, mas se pensarmos, ele é tão violento quanto a Marta. Ela só é mais clara do que ele. Esse jogo de opostos é que tornou a história dos dois tão interessante.
 

TV Press
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