Pedro Paulo Figueiredo/TV Press |
Ricardo Waddington e Carla Lombardi assinam direção e texto, respectivamente, de Pé na Jaca |
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Enquanto a maioria do elenco, produção e direção de Pé na Jaca deve estar "de cabelo em pé", ansiosa com a estréia da nova novela das sete da Globo, uma pessoa se mantém serena e despreocupada. Trata-se do paulistano Carlos Lombardi, que assina a sua 15ª novela em 30 anos de carreira. Com a experiência a seu favor, substituir um sucesso como Cobras & Lagartos nem parece tarefa das mais difíceis. "Não, se o autor tiver uma perspectiva realista. Isso não é problema para mim", disse.
Ao longo da carreira, o autor fez diversas tramas das sete que se tornaram memoráveis. Foi assim com Quatro por Quatro , Uga Uga e Kubanacan. Mas Lombardi considera a minissérie O Quinto dos infernos o seu melhor trabalho até hoje. Escrever para o horário das 23h é a sua maior ambição.
"Me inspiro na minha vida, na de quem está em volta e no que leio nos jornais. Cheguei a conclusão de que, apesar de tantos anos de trabalho, continuo sendo um cara inquieto", observa. Leia a seguir a entrevista com o autor:
P - Pé na Jaca será uma comédia rasgada, de situações?
R - Nunca vejo minhas novelas como comédias rasgadas. Elas sempre são melodramas contados de maneira animada e para cima, que usam da comédia e, principalmente, da ironia. Mas por baixo, sempre tem situações dramáticas. A sinopse é um melodrama. Comédia é um dos ingredientes para contar esse melodrama ¿ talvez o mais visível, não o mais importante.
P - Como você pretende explorar temas mais sérios em uma novela que tem enfoque na comédia?
R - Não acho que comédia seja oposta a temas sérios. Pelo contrário. O que é diferente é o tom da narrativa, não a ausência de idéias. Acho que muita gente confunde seriedade com discurso ou choradeira. Para mim, por exemplo, o abandono, a falta de perspectivas profissionais ou os outros temas das quatro mulheres abandonadas - que iniciaram Quatro por Quatro - são profundamente sérios. Só que as personagens, em vez de só ficarem chorando sobre o leite derramado, choraram um pouco e partiram para vingar-se dos homens que as fizeram sofrer.
P - Substituir um sucesso como Cobras & Lagartos é difícil?
R - Não, se o autor tiver uma perspectiva realista. Estreei Quatro por Quatro depois do maior sucesso da história das 19h, que foi A Viagem, de Ivany Ribeiro. Claro que os números caíram e bastante. Ao mesmo tempo, logo houve uma percepção de que a novela tinha caído no gosto do público ¿ mesmo sem repetir os números da antecessora. Vamos estrear Pé na Jaca em um feriado, no horário de verão, perto das compras de Natal. Mas isso não é problema para mim.
P - Por ter determinados temas e cenas proibidos para o horário, uma novela das sete limita o autor?
R - Só minhas células limitam minha criatividade. A preocupação com o horário e o neo-moralismo que tomou conta do país me preocupa, porque compromete minha habilidade em narrar uma trama. O que mais me irrita nesse assunto é que, geralmente, quem mais se mete no tema é quem menos assiste a novela. Para mim, uma sociedade saudável é aquela em que os pais determinam o que os filhos podem ou não assistir, e não terceirizam esse trabalho e essa autoridade.
P - O que você espera da sua novela, além ¿ é claro ¿ de que ela seja um sucesso?
R - Meu interesse é fazer uma novela interessante, que eu goste de assistir, torcendo para que o público goste também. Atualmente, temos um estilo de novelas dominante: uma trama central séria e paralelas engraçadas. Pé na Jaca é o oposto. Todos os núcleos passam pela comédia e pelo drama e não são exclusivos de um ou outro registro. Isso pode ser difícil para um público que há muito tempo não vê uma novela com essas características. Mas é do jogo. Depois de 25 anos de Globo, se eu não inventar essas coisas, o trabalho não teria graça alguma.
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