> Diversão  > Gente & TV


 Especiais
BBB 9

 Sites relacionados
Caras
Cinema & DVD
Diversão
IstoÉ Gente
Música
OFuxico
Séries de TV
Séries Online
Sonora

 Notícias por e-mail

 Fale conosco

TV
Sábado, 28 de junho de 2003, 09h26 
Camila Pitanga: "Diogo é o grande amor de Luciana"
 
Renata Petrocelli
 
Jorge Rodrigues Jorge/Canal Zap
Camila Pitanga vive sua primeira personagem adulta na TV
Camila Pitanga vive sua primeira personagem adulta na TV
 Últimas de TV
» CORRIGE-Cantor Elton John é pai pela segunda vez
» Cantor Elton John é pai pela segunda vez
» CORREÇÃO-Jodie Foster anuncia que é lésbica no Globo de Ouro
» Jodie Foster anuncia que é lésbica no Globo de Ouro
Busca
Busque outras notícias no Terra:
Até hoje, Camila Pitanga fica trêmula e com as pernas bambas a cada vez que Luciana, sua personagem em Mulheres Apaixonadas, aparece em cena realizando algum procedimento médico. As reações, no entanto, não são fruto de sua já propalada fobia de sangue, que acabou amenizada durante os laboratórios para a composição da dedicada médica.

De fato, a atriz achou que não fosse chegar em sã consciência ao final da cirurgia que ela, José Mayer e Carolina Kasting acompanharam com o cirurgião Paulo Niemeyer, antes do início das gravações da novela. Mas resistiu bravamente.

Mesmo assim, a necessidade de transmitir familiaridade e precisão com ações tão distantes de seu dia-a-dia ainda lhe tira a calma. "Fico imaginando que ela estudou anos para dizer aquilo como se fosse a coisa mais natural do mundo", justifica, rindo de sua própria lógica.

A preocupação revela o extremo cuidado de Camila com cada detalhe das personagens que interpreta. O rigor com o próprio trabalho é manifestado ainda no estúdio, onde ela faz questão de conferir no monitor as cenas que acabou de gravar. "Até há pouco tempo, ficava mal quando não gostava de alguma coisa. Agora, só procuro ver o que funciona ou não, para tentar melhorar", compara, tranqüila. Prova do senso crítico relativizado é que ela elege como prediletas justamente as cenas que mais lhe causam medo. "Adoro viver o cotidiano médico dela. Sinto-me constantemente testada", revela, com uma indisfarçável pontinha de orgulho.

Aos 26 anos de idade, Camila já tem 10 de carreira na tevê e fala de trabalho como uma veterana. Por isso mesmo, destaca a personalidade de Luciana como um dos grandes atrativos do papel e chega a defini-la como sua primeira personagem verdadeiramente adulta na tevê. "Minhas outras personagens eram meninas sonhadoras, sedutoras, batalhadoras até, mas não tinham a maturidade que ela tem", avalia, visivelmente conquistada pelas atitudes da médica.

A Luciana vive em permanente conflito com seus sentimentos por Diogo. Como você trabalha esta relação na composição dela?
Desde que recebi o convite para interpretar a Luciana, esta relação interrompida era um traço forte da personalidade dela. Tanto que minhas primeiras cenas na novela ficaram muito em cima do casamento do Diogo e das brigas dela com a Marina. Ele é o grande amor da vida dela, mesmo depois do envolvimento com o César. Este triângulo, e na realidade cada um deles é a ponta de outro triângulo também, é sem dúvida um fato importante na composição dela. Mas me prendi mais em traços da personalidade dela que me atraem muito. É uma mulher que sabe o que quer, tem uma responsabilidade enorme no trabalho, uma relação bacana com a família, é coerente, ética, forte e ao mesmo tempo bastante espontânea nos seus sentimentos. Isso é o que venho trabalhando com mais intensidade. O resto é conseqüência do relacionamento dela com os outros personagens.

Você já se pegou imaginando qual seria a reação dela ao descobrir o envolvimento do César com a Helena?
Posso até imaginar, mas não me apego ao que imagino. Tenho sempre que esperar o capítulo chegar, tenho que dançar a música do Manoel Carlos. Dependendo do que ele escrever, vou tentar colocar ali, ou não, o que pensei. Vou ver se cabe. Em novela, não dá para se prender à nossa própria imaginação. É preciso ir sentindo o que o autor cria, o que os outros personagens sugerem, o que o público sente.

Você acha difícil lidar com a imprevisibilidade na trajetória dos personagens de novela?
É natural ter um pouco de expectativa. Mas aprendi que o ator não pode criar expectativa em novela. É preciso se entregar mesmo, ir construindo a trama junto com o autor, com o público. É sempre um tiro no escuro. Nesta novela, em especial, trabalhamos desde o início com um perfil muito restrito dos personagens. Não tinha nada muito definido, mas isso é bom, é instigante. Desde o início, fui me conectando com o que vinha de informações e fui criando o perfil da Luciana, junto com o autor. Não só pelo que ele me dá diretamente, no texto, mas também pelo que vejo da novela.

Quer dizer que o trabalho dos outros também influencia o perfil que você dá a ela?
Não só o trabalho dos outros, mas o meu próprio. Gosto muito de ver a novela e às vezes me surpreendo com alguma coisa que faço, com uma leitura que não tinha intenção de dar e acabo criando para o público. Minha personagem não é só o que faço. É o que faço inserido num contexto de outras histórias. Quando vejo, costumo sentir se devo ir por um caminho ou por outro, se é melhor naquele momento ficar mais romântica, ou mais alegre, ou mais dura. É vendo a novela que percebo estas nuances.

E como costuma ser sua relação com o autor?
Acredito muito que uma novela seja um diálogo indireto entre autor e ator. Não preciso ligar para o Manoel Carlos para dizer coisas que penso sobre a Luciana. Dependendo do modo como faço uma cena, estou dando um caminho, uma direção. Da mesma forma, ele responde ao que viu escrevendo. É uma dança muito instigante porque, como não há nada pronto, você sempre se surpreende com o que vai vindo para a personagem. E já pensou a alegria de surpreender o próprio autor com uma leitura que ele não imaginava para o texto que escreveu?

Você já tinha vontade de trabalhar com o Manoel Carlos?
Muita. Sempre acompanhei as novelas e admirava muito o trabalho dele. E não o conhecia pessoalmente. Um pouco antes do convite, nos encontramos algumas vezes no Leblon, casualmente. E ele ficava nessa promessa: "Um dia quero te convidar para uma novela". Foi quase um namoro. Até que o convite foi formalizado pelo Ricardo Waddington.

Que foi, aliás, o diretor de sua estréia na tevê, na minissérie Sex Appeal...
E está sendo um barato reencontrá-lo. Talvez até por ter começado com ele, temos uma intimidade, uma forma mais à vontade de trabalhar que é muito bacana. Ao mesmo tempo, é também um recomeço, porque são dez anos de intervalo entre aquele primeiro trabalho e este. Eu adquiri mais experiência, ele também. É um grande diretor. E uma pessoa muito querida.

Você tem algum tipo de preocupação ao selecionar seus trabalhos na tevê?
O ator hoje em dia não tem muito o que escolher na tevê. Os convites acontecem independentemente da nossa vontade. Tenho a sorte de não me sentir seqüestrada por um tipo de personagem só. Acho que já transcendi este tipo de questão. Posso ter vários personagens: uma médica, uma porta-bandeira, uma índia, uma jovem da Bahia...

Mesmo na época de Porto dos Milagres você não teve medo da imagem da "sensual mulher brasileira"? Afinal, era até apontada como uma "nova Gabriela"...
Não tive esta preocupação porque as personagens eram bem distintas e a história também. Apesar de serem dois trabalhos baseados em obras do Jorge Amado. Meu papel é ir vivendo cada personagem, a comparação é feita mesmo pelas outras pessoas. Mas, na época, nem senti esta cobrança do público. Foi mais mesmo a imprensa, que ficava tecendo paralelos. Não sinto que o público tenha esta expectativa comigo. Pode ter saudade de um personagem que é muito querido, mas não necessariamente relacionando esta imagem a mim. É algo que acontece de modo geral com um personagem marcante.

Como você avalia a participação do negro na teledramaturgia?
Ainda há muito a se conquistar. Não existe uma visibilidade equilibrada com o que o negro representa na história do Brasil, nem com o que ele é hoje em termos de participação social. Ainda não há equilíbrio, mas acho que há espaços se abrindo. É uma questão na qual ainda estamos caminhando.

Você tem um posicionamento político atuante. Acha que isso faz parte da função social do ator?
Acho complicado cobrar isso só dos artistas. Todos nós temos um papel político no mundo. A participação depende de cada um, de como cada um se pensa no mundo, de como se quer no mundo. Não há regras para isso. Um médico pode ser uma liderança, um advogado também. O artista acaba sendo mais solicitado por estar mais exposto. Mas ele pode ou não criar uma direção política atuante. E se escolher este caminho, pode fazê-lo não só através do que diz, mas através do que faz, de seus personagens.

Neste sentido também a Luciana atrai você?
Sem dúvida. Não só pela atitude de extrema responsabilidade diante da profissão dela, pela forma absolutamente ética como se porta diante das coisas. Mas também porque é uma pessoa que tem bom senso, bom caráter e certeza daquilo que quer. É um pequeno exemplo de atitudes que são cotidianas, mas demonstram o posicionamento de cada um no mundo.

Temporada em dobro

Quando está longe da clínica, onde exibe uma postura essencialmente profissional, Luciana esbanja charme e sensualidade em cenas calientes com César, vivido por José Mayer. Já Camila Pitanga esconde os belos traços femininos sob o figurino masculino que ostenta durante boa parte do espetáculo Arlequim, Servidor de Dois Patrões. Atualmente em cartaz no Rio de Janeiro, a peça é a única atividade com que a atriz tem conseguido dividir os bastidores da novela. Tanto que até a participação num show recente de Elisa Lucinda, que interpreta sua mãe na trama, teve de ser cancelada na última hora em função de um atraso nas gravações. Camila lamentou ter de abrir mão da oportunidade de exercitar um de seus hobbies favoritos: cantar. Mas assegura que o prazer com o trabalho supera qualquer eventual frustração. "Ultimamente, só tenho tido folga aos domingos. A única coisa que quero é ficar em casa, bem quietinha", confessa, em meio a jardineiras e vasos de plantas que ela faz questão de "monitorar" pessoalmente.

No espetáculo, um clássico da commedia dell'arte, de Carlo Goldoni, a atriz está tendo a experiência de exercer pela primeira vez o papel de produtora. Algo que lhe dá um grande prazer, mas rouba outras preciosas horas de seu dia. "Cada nova temporada é quase um começar de novo, porque exige uma série de decisões", justifica, lembrando que a próxima empreitada é a estréia em São Paulo, no dia 4 de julho. O lado bom é justamente poder comemorar cada vitória, como uma "simples" nova estréia, em dobro. "O comprometimento é maior. Afinal, são 11 atores e temos a responsabilidade de criar as condições para este grupo continuar", valoriza, citando o ator Marcos Breda, que interpreta Arlequim, e a produtora Maria Helena Alvarez, que dividem com ela o trabalho.

No palco, o papel de Camila é Beatriz Rasponi, uma jovem apaixonada que se vê obrigada a se travestir de homem para receber a herança do irmão morto. "Às vezes, saio da gravação cansada e me revigoro no teatro. O espetáculo levanta o ânimo, tem a empatia do público, o clima é ótimo", derrama-se a atriz. Apesar da disposição, Camila tem de deixar a personagem nas mãos de Ana Paula Bouzas pelo menos uma vez por semana, média que deve aumentar para dois dias quando o espetáculo estrear em São Paulo. "A gente se organizou para não ficar na esquizofrenia em função da novela. Faço quando der", conforma-se.

Arte em família

As referências ao pai, o veterano ator Antônio Pitanga, ficam claras em cada justificativa de Camila para suas opções profissionais. A paixão pelo cinema, por exemplo, é algo que ela explica com seguidas citações do Cinema Novo, movimento no qual ele se destacou. Até agora, a estréia de Camila na telona ficou mesmo por conta de Caramuru, longa de Guel Arraes produzido a partir da microssérie A Invenção do Brasil, de 2000. Mas a atriz já tem dois outros trabalhos "no forno": O Redentor, de Cláudio Torres, rodado no ano passado, e Bendito Fruto, de Sérgio Goldenberg, ainda sem data de lançamento.

O posicionamento político é outra característica que credita ao pai e até à madrasta, a Secretária de Ação Social do governo Lula, Benedita da Silva. "A herança existe não só pela história de vida dele, mas pela forma como fui educada", avalia, sem conter os elogios. "É um homem que saiu da Bahia e conquistou seu lugar no mundo", derrama-se.

Não à toa, Camila não vê a hora de voltar a encontrar profissionalmente o pai. A primeira vez foi em A Próxima Vítima, de 1995, onde viveram pai e filha. E o próximo encontro deve sair do punho do próprio Antônio. Ele está produzindo o longa-metragem A Revolta dos Malês, que vai reunir Camila e o irmão, Rocco Pitanga. "Com certeza vai 'dar o maior samba'. E reunir a família toda só pode ser maravilhoso", anseia.
 

Canal Zap
Imprimir Enviar